Filme de abertura da última Mostra de São Paulo, depois premiado nela, único filme latino selecionado dentre os 9 finalistas de filme estrangeiro do Oscar, No tem uma ideia e uma proposta muito melhor do que sua realização. Acho que a decisão do diretor de realizar um filme com os recursos técnicos que existiam na época em que sucederam os fatos, só serve para oferecer ao público uma imagem do falecido sistema de vídeo U-Matic (hoje até difícil de encontrar e que resulta numa qualidade deficiente de imagem, borrada, manchada, irregular).
Para o diretor pode ter sido uma sacada rodar assim, um deleite, para o espectador é um desastre, ainda mais em cenas noturnas. Imagine como ficará depois em Home Video ou na televisão. O espectador hoje se acostumou com um padrão de qualidade, inclusive o HD, que torna o filme insuportável (é preciso contar também que na primeira sessão de sexta-feira quando vi o filme da metade para o fim na cópia ficou o resto do tempo duas frases (não vai me dizer que você colaborou na Campanha do Sim, resposta: não) o resto do filme. As legendas novas apareciam em cima, mas distraia e atrapalhava. Ao reclamar no final constatou-se que era um problema que veio da geração da distribuidora já que ao menos na projeção vivemos a era digital ainda confusa e experimental.
Talvez a expectativa tenha me tirado também parte do prazer, já que esperava ao final do filme ver a plateia aplaudir entusiasmada, empolgada, resultado de uma narrativa importante. Mas não, o final do filme é chocho, com uma cena que não precisava ter (em vez disso, era melhor terem acrescentado letreiros explicando a sorte futura dos participantes, inclusive o próprio Pinochet, já que o espectador não tem obrigação de saber detalhes da história do Chile).
Há para mim outro problema. Não gosto de Gael Garcia Bernal, um cabeçudo franzino que deveria estar no elenco de O Hobbit a quem deram um papel passivo, feito sem energia ou brilho. Embora tenha sido seu personagem Renée Saavedra, o criador de todo o projeto da campanha televisiva do No.
Para quem ainda não sabe, em 1988, no Chile, depois de 15 anos da ditadura militar de Pinochet, havia uma pressão internacional que fez com que este admitisse a realização de um referendum nacional, para o povo votar se devia ou não continuar no poder. Sim, era para terem mais 8 anos de ditadura, No para mudar de governo. E o governo concedeu 15 minutos diários em horário ruim (não fica bem claro qual) enquanto o governo tinha a teve estatal o tempo que quisesse.
Publicitários ou marketeiros não podem perder o filme já que o “case” é um dos mais interessantes do marketing político em todos os tempos. Utilizando técnicas de comerciais de produtos com cara de Coca Cola, enfrentando traições (o dono da televisão e parceiro de Gael, chamado no filme de René Saavedra, é também quem leva e traz e cuida da campanha do Sim), perseguições, escutas, e até mesmo prisões e ataques da polícia (também quem viu a nossa ditadura terá flashes de memória de coisas semelhantes). Ou seja, não foi nada fácil, mas como conta a história um governo ditatorial foi derrubado sem levantar armas.
Outro problema que enfrenta o filme, já se sabe do final. Se bem que a história é tão interessante que isso não perturba. Tem coisas que são boas de repetir e ouvir novamente. E como sempre fico me perguntando por que não se faz no Brasil filmes sobre coisas semelhantes de nossa política e nossa ditadura, de vitórias e não derrotas.
Rapidamente aparecem astros de Hollywood com mensagens apoiando o No, Richard Dreyfuss falando um mal castelhano, o falecido Christopher Reeve Superman e a infalível Jane Fonda.