Crítica sobre o filme "Liz e Dick":

Rubens Ewald Filho
Liz e Dick Por Rubens Ewald Filho
| Data: 25/12/2012

Eu fico sempre espantado com a falta de respeito que Hollywood tem de seu passado e seus mitos. É incrível como eles podem ter feito com tal ligeireza e falta de cuidado, esta pseudobiografia do casal mais famoso de sua época a recém-falecida Elizabeth Taylor (1932-2011) e seu marido por duas vezes, Richard Burton (1925-84), ambos seriam lendas. Burton foi indicado ao Oscar por 7 vezes e nunca ganhou, Elizabeth ganhou 2, num total de 5 indicações e um especial pela filantropia.

Não que digam algo de ofensivo sobre ambos apenas fizeram um telefilme passado em três décadas, ou seja, de difícil produção em apenas 20 dias e cujo orçamento de divulgação era bem maior que o de rodagem. O desrespeito vem até no título já, Dame Elizabeth detestava ser chamada de Liz e para interpretá-la foram chamar logo a mais escandalosa das starlets Lindsay Lohan, que por sinal está para ser mandada novamente para a cadeia por desrespeitar sua liberdade condicional. Falaram antes com Megan Fox (que ficou fora de moda) e Olivia Wilde (que seria muito melhor). E para viver Burton, encontraram um sujeito que eu desconhecia, o neozelandês Grant Bowler que veio de True Blood, o filme Os Especialistas, Ugly Betty e não se parece em coisa nenhuma com Burton. Mas ao menos se dá ao trabalho de tentar reproduzir a famosa voz teatral do ator, coisa que Lindsay nem tenta. Ela fica com a habitual voz rouca sendo que Elizabeth tinha um tom de voz todo particular, meio gata. Ou seja, um total equívoco.

A sensação que se tem ao ver o filme é que parece uma montagem escolar do romance do casal, todo mostrado de forma amadorística, com diálogos bobos e pseudoespertos, que podem ou não ter a ver com os fatos, já que estão sempre sumarizando acontecimentos e sentimentos. Não há nem sequer a lendária beleza do auge e os anos quando ela engorda, mas se nota a diferença, a paixão entre eles, a razão porque ficaram tanto tempo junto. Principalmente falta o senso de humor que ambos tanto prezavam. De Burton, mostram que ele gostava de ler e escrever e tenho na minha cabeceira, o livro que lançaram faz pouco, com os diários com que ele comenta o romance. Mas ainda não li. Sei que o filme não mostrava o que todo mundo comentava, era um homem brilhante quando sóbrio, mas virava um chato e um monstro agressivo quando bebia. O que era toda noite.

Para mim, que assisti os dois no palco na Broadway, com suas qualidades e defeitos, assistir ao filme é mais triste ainda, quanta besteira junto. O diretor Lloyd é veterano realizador de telefilmes imemoráveis como a refilmagem de David and Lisa, Before Women had Wings, As Cinco Pessoas que você encontra no Céu.  O roteirista Christopher Monger é também diretor de filmes como Fantasmas Endiabrados com Shirley MacLaine, O inglês que subiu a colina e desceu a Montanha, A Garota do Rio. Mas escreveu também o roteiro do ótimo Temple Grandin, com Clare Danes. Este não tem desculpas. Nem deve ter ganhado tanto assim.

Se sabia que era tão ruim porque fiz questão de ver. Para ficar informado e por causa daquela curiosidade mal sã, talvez a esperança de ver redimida Lindsay (admirei os primeiros trabalhos juvenis dela, onde demonstrava talento que a droga foi queimando e destruindo).