Crítica sobre o filme "Pequena Loja dos Horrores, A":

Rubens Ewald Filho
Pequena Loja dos Horrores, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/12/2012

Tem gente que afirma que a inspiração do filme foi um conto de terror de 1932, que estava no livro Green Thoughts, de John Collier, que o produtor Roger Corman teria surrupiado para dar origem a seu Cult e celebre filme homônimo A Loja de Horrores (Little Shop of Horrors, 60, preto e branco, dirigido por Corman, com o muito jovem Jack Nicholson como Wilbur, o masoquista, Jonathan Haze como Seymour, Jackie Joseph, Mel Welles, Dick Miller).

Considerado uma espécie de continuação de um filme do mesmo diretor do ano anterior, A Bucket of Blood, inédito aqui) que também era comédia de humor negro. Corman bolou o filme para aproveitar um set que já estava pronto de um outro filme e conseguiu o lugar por dois dias e uma noite (embora algumas ceninhas adicionais tenham sido feitas depois para dar montagem). Ou seja, ficou famoso por ter sido feito tão rapidamente (mas hoje está em domínio público e as copias disponíveis são fracas).

Porém uma dupla de compositores, Howard Ashman (1950- 1991, letras e também roteiro do filme) e Alan Menken (49- )- que aliás se tornariam depois extraordinariamente conhecidos como o compositores da série de desenhos da Disney, A Pequena Sereia, Aladin, A Bela e a Fera (até a morte prematura de Ashman de Aids).

De qualquer forma, os dois é que foram responsáveis pela ideia de montar off-Broadway um show baseado no filme, aliás seguindo-o praticamente à risca. Fez sucesso e foi comprado pelo produtor de discos David Geffen, hoje um dos sócios da Dreamworks.

Foi ele também quem produziu o filme e desde o princípio não gostava do final. Nesta edição tem uma featurette especial em que o diretor explica que a culpa não foi de Geffen mas de uma preview em que o público reagiu totalmente negativo com o final, depois de terem torcido pelo casal de nerds romântico da história, não aceitou que (SPOILER) ambos morressem nas garras da planta carnívora e muito menos que a planta convocasse suas colegas (elas são de um outra planeta e vieram para conquistar a Terra).

Então refizeram com um final feliz (nesta edição tem as duas versões, a original do cinema mais curta e agora em ótima qualidade, já que tudo foi remasterizado o casal morrendo e as plantas se popularizando sendo vendidas em supermercados e se revoltando contra os donos, de forma que no maior estilo de filme B de invasão da Terra. Concluindo com o Planta em cima da Cabeça da Estátua da liberdade e um letreiro perguntando se é o fim (com interrogação!)

Preferir uma versão ou a outra é uma questão de gosto e humor (negro). Mas o legal é ter essa edição de primeira em formato de livro, e com muitos extras (comentários do diretor, ainda outras cenas cortadas e outakes, na verdade quase todos de humor, dois trailers de cinema).

É bom falar um pouco do diretor Frank Oz porque ele também é uma celebridade que criou o Yoda de Star Wars. Eis sua filmobiografia:

Conhecido por seu trabalho atrás dos famosos bonecos Muppets de criação de Jim Henson (com quem vem trabalhando a mais de 20 anos). Depois de anos fazendo Enio e Beto no programa infantil educativo Sesame Street (no Brasil, Vila Sésamo), passou a trabalhar no programa especial dos Muppets, fazendo, entre outros, Miss Piggy. O sucesso do The Muppet Show fez com que fossem feitos diversos filmes com os bonecos. Um destes filmes foi realizado por Oz, que já tinha co-dirigido (com Henson) um outro filme também com bonecos (mas não Muppets) e logo para George Lucas. Outras aparições no cinema como Yoda (o mestre Jedi da saga Star Wars) e também como ator em filmes de John Landis (seu amigo): Trocando as Bolas, Um Lobisomem Americano em Londres, Os Irmãos Cara-de-Pau, Os Espiões Entram Numa Fria. Surpreendentemente sua carreira como diretor engatou, permitindo que ele experimentasse outros gêneros além da comédia. Nascido em 25 de março, em Hereford, Inglaterra, com o nome de Richard Frank Oznowicz.

Ou seja, Oz é supercompetente e aqui mistura de forma curiosa musical, com humor negro e elementos de terror e ficção cientifica. É narrado por um trio de cantoras negras à la Supremes que interferem em todos os sets e vão comentando a ação (tudo é rodado em cenários de estúdio, propositalmente estilizados para aumentar o clima de fantasia). Mas como eles eram todos populares conseguiram participações especiais de astros famosos: temos o gordo e simpático John Candy (1950-94) prematuramente falecido como um apresentador de rádio, a presença de James Belushi (na época apenas irmão de Jim Belushi, hoje astro de séries de TV), Steve Martin com um papel grande como o dentista sádico com canção e tudo (sua contribuição ao filme é muito grande, inclusive improvisando muita coisa), ele faz o dentista sádico e como contrapartida, o ótimo Bill Murray (na época ainda não cultuado como hoje), faz o paciente sado masoquista, outro ponto alto da história. Como o primeiro cliente da loja aparece Christopher Guest, hoje famoso como diretor de comédias originais e marido de Jamie Lee Curtis.

O papel principal do sujeito que descobre a planta e lhe dá sangue para crescer foi feito por um comediante canadense Rick Moranis, então na moda (ele fez muitos filmes como astro inclusive a trilogia, Querida, Encolhi As Crianças, Os Caça Fantasmas etc.). Porém sua amada mulher faleceu de câncer em 1991 e ele teve que cuidar dos filhos. Já estava desiludido da vida e o trabalho em Hollywood e resolveu se aposentar (chegou a fazer algum trabalho de dublagem depois para o Irmão Urso, da Disney, 06 mas seu último trabalho oficial como ator foi Querida, Encolhi a Gente em 97, que saiu direto em vídeo).

Para mim, o ponto fraco do filme é sem dúvida a estranha e caricata mocinha (nem tanto) que é feita por Ellen Greene, que chegou a estar em filmes como Um Dia Especial (96) com George Clooney, Verdades que Matam (88), O Profissional de Besson (94) e hoje em dia ainda trabalha, mas em séries de TV (Heroes, The Young and the Restless). Para mim é o ponto fraco do filme. Este chegou a ser indicado aos Oscars de efeitos visuais e canção original (composta especialmente para o filme, Mean Green Mother from Outer Space, o que me relembra a importância no filme do dublador da voz da planta Audrey II, que foi feita por Levi Stubbs (1936-2088), solista do conjunto The Four Tops de voz grossa e poderosa que realmente faz o personagem funcionar (infelizmente ele morreu não muito tempo depois). O filme foi ainda indicado ao Globo de Ouro de musical e trilha musical, Bafta (efeitos) e Sindicato dos Roteiristas.