Depois de ser exibido em Cannes, Chicago, na Mostra Internacional de São Paulo já está há algum tempo em cartaz este novo filme do exilado Kiarostami, com dinheiro francês e locações agora no Japão (o título original curiosamente está em inglês e resulta mais poético, Como Alguém que Apaixonado). Depois de ter acertado com o bonito e misterioso Cópia Fiel (mesmo não entendendo tudo, o resultado era intrigante e também estranho se ver um diretor iraniano dar uma de Antonioni) ele tenta de novo, com este filme que consegue ser ainda mais lento e capaz de induzir qualquer um ao sono (ainda assim tinha uma plateia razoável na sala que se comportou muito bem).
Fiquei impressionado com a cena de abertura que foi feita para confundir o espectador. Sem adotar o ponto de vista da futura protagonista, mas sim do narrador neutro, tudo começa num barzinho/boate japonês, onde se ouve uma conversa (legendada) que a gente imagina veio de um grupo de três pessoas que estão no lado esquerdo do quadro. De vez em quando, interfere uma garota de cabelo vermelho que está no lado direito, mas demora um pouco para percebermos que a heroína Akiko está fora de quadro, conversando de celular com seu namorado briguento. É uma forma interessante de deixar o espectador desacorçoado e sinal do que vem adiante.
Demora um pouco também para descobrirmos (nada é explicado como no cinema americano, temos que supor e adivinhar) que a estudante é garota de programa (mas o namorado nem a família sabem, ela se desencontra de uma velha tia que a procurou naquele dia) e com relutância ela vai a uma cidadezinha vizinha de Tóquio encontrar um cliente de quem tem poucas informações, Sr. Takashi.
Acompanhamos a longa viagem, enquanto ela dorme e também bem lentamente ficamos conhecendo um pouco do Sr. Takara, que deve ter por volta de 70 e tantos anos, é tradutor e escritor de livros publicados. Mal chega lá e a moça já vai dormir (outra coisa, o filme não tem trilha musical, apenas musical incidental, com trechos da orquestra de Duke Ellington e Ella Fitzgerald tocando em vitrola).
No dia seguinte, o velho faz questão de acompanhá-la dirigindo e esperando enquanto faz prova na escola. Ele testemunha a briga com o namorado, que é um tipo rude, dono de uma oficina mecânica e que irá puxar conversa com o velho, achando que é o avô dela. Novamente se explica pouco e não chega a haver conflito porque o rapaz que deseja se casar com a garota se oferece para consertar a correia do carro do pseudo avô. Depois velho e garota retornam para a casa dele, onde logo depois há um final abrupto e mal explicado, que deixa as coisas no ar.
O filme foi rodado com o nome de The End (que é também o nome de uma das várias produtoras dele) e segundo o diretor, foi inspirado por uma viagem dele ao Japão quando estava dirigindo pelo bairro comercial à noite, quando viu uma garota vestida como noiva na calçada e esta imagem ficou com ele. Retornou outras vezes ao país, e eventualmente serviria de inspiração ao filme (que não tem noiva nenhuma).
A fotografia é bonita, todo o visual agrada aos olhos. É uma qualidade as coisas ficarem ambíguas e menos explicitas, mas não gosto de filmes que são interrompidos aleatoriamente. Não precisa ter final feliz, mas ao menos algum final.