A gente tem a tendência, errada no caso, de achar que todo filme argentino que chega até nós é bom. Isso não é verdade conforme demonstra este produto esquisito, que não tem coragem de ser comédia, nem assumir o melodrama com quem flerta.
Nesse meio termo foi mal em sua Terra natal e só vai enganar os que têm alguma ilusão sobre esta história já feita dezenas de vezes e repetida sem brilho. Com certeza, Libertad Lamarque ou Zully Moreno, ou qualquer das deusas do dramalhão latino já estrelaram algum filme com a história convencional de uma esposa de muitos anos que no funeral do marido descobre que ela tinha uma outra (neste caso, para variar a esposa é uma diretora de documentários e a descoberta já é feita quando ele tem um enfarte, vai para o hospital e a garota, claro que bem mais jovem, está lá com ele e todo mundo pensa que é a filha! Essa é praticamente a única piada que nem é bem explorada).
Fico imaginando as espectadoras bem senhoras que frequentam o Reserva e sua reação, já que a mocinha Adelia (Bertucelli), que já fez XXY, O Clube da Lua e me parece uma atriz particularmente magra - fiquei chocado com as perninhas, pouco simpática ou atraente, nem um pouco que um gringo daquela idade iria se sentir atraído.
Afinal conhecemos o gosto dos amigos argentinos que aliás como quase todo latino, gosto de mulheres mais exuberantes de corpo, muito maquiadas e vestidas com exagero. Do jeito que foi escrito, ela chora de paixão o filme todo (nenhuma esposa ou viúva presente na sala vai acreditar na sinceridade dela nem o filme se esforça em construí-la melhor, deixando passar que é uma pessoa confusa e mesmo chata). Aliás, o filme é um encontro de gente chata que dão nos nervos das possíveis espectadoras.
É difícil explicar para um espectador hoje quem foi Graciela Borges. Nos anos 50, ela já era estrela de filmes e de uma particular beleza em filmes do importante diretor Torre Nilson. Por isso é difícil aceitá-la detrás de óculos escuros de um rosto açoitado pelas plásticas que a deixaram igual a todas que passaram por esse processo (aliás, as últimas que foram vítimas dessas atrocidades foram Barbra Streisand que pôs maçãs do rosto de travesti e Catherine Zeta-Jones de que reformou todo o rosto, neste caso só perdeu a expressão junto com 20 anos de idade). Enfim, é doloroso ver como ela se sairia se conseguisse alguma forma de demonstrar sentimentos poderia ser ainda um Monstro de atriz. Como demonstrou antes em Os Irmãos.
Ainda assim é uma diva, e delas se perdoa quase tudo, ao menos muita coisa. Diria mesmo que apesar dos pesares é a melhor coisa do filme. Por que o resto é duro. Tem um romance com um câmera man que é bem mais novo e estaria realmente envolvido de verdade (nem se fosse conto de fada) e o mais irritante é o empregado da casa que é um semi-travesti mal educado que está sempre chateado, fazendo desaforo, ofendendo a patroa (que não toma atitudes porque ele saberia demais!
Ainda assim esse personagem é um enigma e completamente mal utilizado). Falta mencionar que a história é altamente previsível, e eles não se furtam em cair em todos os clichês, até no finalzinho. Que triste presente de natal este.