Crítica sobre o filme "Impossível, O":

Rubens Ewald Filho
Impossível, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/12/2012

Difícil imaginar que este filme seja espanhol, dirigido por um cineasta relativamente novo que praticamente fez antes um longa, que o terror O Orfanato, 2008, que realmente dava sinais de talento, mas não podia comprovar a competência para um filme tão ambicioso e caro quanto este, que é uma produção independente que conta uma história real de um casal espanhol (aparece a foto deles ao final e não se parece nada com os que os interpretam: como concessão ao mercado internacional eles se tornaram britânicos).

Não é o primeiro filme sobre o tsunami, já houve uma ambiciosa minissérie e uma sequência muito bem feita de Além da Vida (Hereafter, 10) de Clint Eastwood, que por essa sequência chegou a ser indicada ao Oscar de efeitos visuais, quando este aqui onde o tsunami tem participação mais importante, nem entrou na lista dos pré-indicados. Talvez porque a melhor coisa técnica do filme não é propriamente a chegada devastadora da onda, mas como seus efeitos são apresentados.

A produção das florestas destruídas, das pessoas feridas, tudo aquilo que eu suponho que se classifique como direção de arte ou cenografia, ainda que em externas, é realmente incrível e impecável. Muito fácil seria vestir soldados de uniformes do que mobilizar multidões de flagelados ou doentes em hospitais. Tudo isso é superdifícil de realizar e tornar verossímil e isso o filme consegue. Inclusive com muitos figurantes sendo realmente sobreviventes da catástrofe. Foi rodado na Espanha, em Alicante, Barcelona e Madrid mas também na Tailândia.

Embora um pouco sufocado por outros filmes grandes para o Oscar o filme deve fazer carreira aqui onde está quase sozinho no mercado (seu único concorrente é o mais belo, mas mais rarefeito e misterioso As Aventuras de Pi). Tem tido indicações para atriz (Naomi, no SAG e Globo de Ouro, possivelmente no Oscar), Tom Holland o jovem e ótimo ator que faz o filho mais velho ganhou prêmio especial do National Board of Review.

Mas em termos de filme catástrofe (ou disaster movie), o filme é muito eficiente. Em parte porque a dupla central é muito simpática, tanto Naomi quanto McGregor são agradáveis, carismáticos e atraentes (ele em particular está mais empenhado do que costume, já que Naomi costuma sempre acertar).

O curioso é que o filho mais velho que terá papel forte na trama, é apresentado na chegada de avião, como o filho problema, Lucas, o adolescente chato que implica com tudo, para depois se reabilitar aos poucos se unindo e salvando a mãe.

Não sei até que ponto o filme mexeu nos fatos, mas achei o roteiro muito hábil, fazendo a gente se emocionar com a chegada da super onda, sem perder tempo. Mal a família (de 5 pessoas, dois dos filhos Thomas e Simon ainda pequenos e interpretados magnificamente por desconhecidos) se instalou, já vem a onda e a tragédia.

Eles estão numa super resort de frente para a praia e o mar. A mãe, Maria, que é médica (Naomi) se agarra numa palmeira e mesmo machucada grave vai atrás dos filhos, numa trajetória emocionante. Aliás, esta é a palavra chave para quem vai assistir o filme. Tem sempre muita emoção sem cair em pieguismo ou caricatura, toda a luta da família para se encontrar, primeiro a mãe que muito ferida é levada por Lucas para um hospital de emergência e depois o pai erroneamente se separando dos pequenos para prosseguir a busca.

Mesmo o final já imaginado não tira o impacto do filme, que é todo muito sincero e empolgante, inclusive com a participação de anônimos de várias idades e origens, todos convincentes. E até da hoje venerável Geraldine Chaplin numa delicada ponta. Sem dúvida, um bom espetáculo.