Crítica sobre o filme "Amarga Esperança":

Rubens Ewald Filho
Amarga Esperança Por Rubens Ewald Filho
| Data: 12/12/2012

Este foi o filme de estreia do diretor Nicholas Ray (1911-79), exaltado pela crítica francesa da Nouvelle Vague (de tal forma que há um depoimento de François Truffaut elogiando muito ele, no documentário de 40 minutos, Um Retrato de Nicholas Ray/I am a stranger here myself. Também traz outro raro depoimento de Natalie Wood com que ele fez Juventude Transviada). Em preto e branco e orçamento modesto da RKO na época sob a chefia de Dore Schary que logo passaria para dirigir a MGM, o filme resistiu lindamente ao tempo (na época ficou dois anos na prateleira porque Howard Hughes estava para comprar o estúdio e custou a ser reconhecido, hoje é ainda apenas cult, não o clássico que merecia).

A narrativa de Ray é altamente inovadora, começando com uma espécie de teaser (não me lembro de ter visto algo semelhante). Mostra o casal se beijando e traz os dizeres: Este Rapaz... Esta moça... nunca foram devidamente apresentados ao mundo em que vivemos... Para contar sua história... Eles vivem à noite (tradução do título original).

Dali em diante, ele inova usando cenas tiradas de helicóptero, onde dentro de carro em movimento, com excelente fotografia expressionista em preto e branco (do pouco reconhecido George Diskant que fez com ele Cinzas que Queimam). É a melhor interpretação do então galã Farley Granger (1925-2011), que depois se assumiu gay (o que deixa transparecer, em geral, é um poseur, e arruinou sua carreira quando quis largar o contrato com seu descobridor o produtor independente Samuel Goldwyn).

Foi Farley quem recomendou sua coestrela Cathy (1923-79), cunhada de William Wyler, que morreu jovem, mas fez filmes importantes como Ben-Hur e Os Melhores Anos de Nossa Vidas. Ela está especialmente bem no filme, que é uma história tensa sobre a traição entre ladrões, muito bem contada, emocionante e possivelmente a obra-prima de Ray.

Foi refilmado por Robert Altman em 1974 como Renegados Até a Última Rajada (Thieves like Us com Shelley Duvall, Keith Carradine) com resultado interessante, mas inferior, um dos filmes menos conhecidos do diretor.