Crítica sobre o filme "Sudoeste":

Rubens Ewald Filho
Sudoeste Por Rubens Ewald Filho
| Data: 06/12/2012

Assisti a este filme quando ele encerrou o Festival de Gramado 2011. Não é nem quer ser, um filme comercial e não vejo o menor problema com isso. Feito em preto e branco e widescreen (a fotografia é muito bela, monocromática).

Sua pretensão é totalmente artística, quase onírica. Estreia na direção de um montador e roteirista (de Arido Movie) que demonstra enorme sensibilidade. Mas não é um filme simples de descrever.

Passa-se num litoral, numa vila onde tudo parece sem vida. Clarice (Simone, sempre uma atriz interessante) revive toda sua vida num único dia enquanto os outros permanecem presos a seu cotidiano. Ele tenta entender “a realidade obscura e o destino das pessoas ao seu redor, num movimento circular que assombra e desorienta”.

Premiado como contribuição artística em Cuba, melhor filme em Vitória, prêmio do júri, da crítica e fotografia no Festival do Rio, participou ainda de Chicago e Rotterdan.

Os que gostam de comparação vão pensar em Tarkovsky e Bela Tarrr, com seus movimentos de câmera e narrativa lenta como num sonho.

Engraçado que há filmes que você se esquece e tem que rever. E tem outros que captura as imagens para sempre, embora nem sempre tenha facilidade de narrá-los.

Lembro bem da figura de uma de minhas atrizes preferidas Lea Garcia, que é chamada de Bruxa, mas que é chamada para vir ajuda num parto, mas quando chega a grávida já morreu. Mas o bebê sobrevive e logo cresce para se tornar a heroína Clarice (a menina é papel de Raquel Bonfante, a velha de Regina Bastos).

Como já disse, toda sua vida se passa em 24 horas enquanto tudo a seu redor não parece se modificar. A vila fica perto de um lago de água salgada de onde vem a sobrevivência das pessoas. E aos poucos vamos sendo sufocados pela constatação da passagem do tempo, e a impossibilidade de se entender tudo completamente (aliás, como na própria vida).

A grande ousadia do filme é ter optado por um widescreen raro na proporção de 3.66:1 (o Scope normal é 2:40) que espanta e perturba (mesmo que subliminarmente) o espectador.

O diretor, junto com o fotógrafo Mauro Pinheiro, rodaram na Região dos Lagos fluminenses mostrando sempre o lado de fábula e alegoria atemporal.

É raro um filme desse gênero me deixar fascinado mesmo que meio perdido diante de indefinições. Mas essa é sua proposta e acho que ela é cumprida. Só ouso recomendar o filme para os que estão dispostos a mergulhar nesse universo.