Crítica sobre o filme "Infância Clandestina":

Rubens Ewald Filho
Infância Clandestina Por Rubens Ewald Filho
| Data: 06/12/2012

Este é o representante oficial da Argentina na categoria de filme estrangeiro no Oscar agora deste ano (2013, para os lançamentos do ano anterior). Premiado como roteiro em Havana, como filme Latino em San Sebastian, teve inacreditável 16 indicações da Academia portenha. Um filme que traz a colaboração importante de brasileiros uma atriz (a bela e exótica Mayana Neiva), do roteirista Marcelo Muller e o montador Gustavo Giani (Xingu,Gonzaga).

Fiz bem em assistir ao filme numa sessão de domingo em Buenos Aires com o público comum. Acho importante sentir a reação da plateia, que assistiu tudo com o coração na mão, sensibilizada, não apenas aplaudiu ao final como ficou para observar os letreiros finais aonde aparecem fotos dos personagens reais que inspiraram a história.

Esse impacto temo que não seja repetido aqui. Ao menos minha primeira impressão foi de já ter visto essa história antes, ela se chamou antes de Quando Meu Pais Saíram de Férias, tem bastante relação com História Oficial de Luiz Puenzo e as crianças adotadas da época (que por acaso ou não, é o produtor da fita) e principalmente com Kamchatka (2002) com Ricardo Darin, de Marcelo Piñeyro (que também era sobre pais militantes que tentam também cuidar de seus filhos pequenos, embora a separação seja inevitável).

Aqui em 1979 se relata tudo pelo ponto de vista do filho mais velho, Juan alias Ernesto (Teo) que se muda para uma cidade do interior com os pais e seu afável e querido tio Beto (o melhor ator do filme Ernesto Alterio (filho do famoso Hector Alterio).

Eles são guerrilheiros de uma organização secreta e clandestina, que estão escondidos apenas por um tempo enquanto preparam novos atentados contra a ditadura militar. Enquanto isso, Juan aproveita os breves instantes da vida normal que sonha em ter. Vai frequentar a escola local, fazer amiguinhos, experimentar algumas rebeldias e também se apaixonar por uma garotinha chamada Maria. Tudo isso o leva a um dilema, entre família, dever, amor, lealdade a pátria, entre a vontade de ser normal, igual aos outros e o dever e a obrigação familiar de lutar contra as injustiças.

Como sempre no cinema argentino, tudo é muito bem contado, bem interpretado, sempre humano, convincente, com ocasionais rasgos de inspiração (como um que surgiu na pós produção apresentando nos letreiros e depois numa cena chave, momentos de violência como se fossem tirados de uma história em quadrinhos), sem medo de colocar dedo nas feridas e sem os pudores da emoção que ultimamente tem prejudicado os nossos cineastas locais. Emociona sim, felizmente.

Não sei se terá fôlego para ficar entre os finalistas do Oscar, a Academia infelizmente ainda não encontrou uma boa maneira de avaliar o cinema estrangeiro, mas é mais um outro trabalho digno e de qualidade de um cinema que continua a nos dar boas lições.