Crítica sobre o filme "Penetras, Os":

Rubens Ewald Filho
Penetras, Os Por Rubens Ewald Filho
| Data: 30/11/2012

Não é um bom título. Além de lembrar demais sua inspiração (a comédia americana Os Penetras Bons de Bico, 2005, sobre dois sujeitos que têm o habito de furar festas de casamento), não dá uma ideia certa do que é o filme (eles furam duas festas, mas não é a razão de ser principal da história). Mas é bom deixar claro que não se trata de mais uma chanchada carioca na linha de Zorra Total.

É até injusto comparar este filme classudo, muito bem dirigido e produzido, com outros produtos nacionais como o recente Até que a Morte nos Separe, que tecnicamente é lamentável. Fotografia de quinta categoria (digital), erros de continuidade, interpretação exagerada e grosseira. Nada disso acontece aqui, este é um trabalho de Andrucha Waddington (Eu Tu Eles e Lope, que fez na Espanha), onde ele continua demonstrando que é um de nossos melhores realizadores.

É um prazer ver a bonita fotografia, os planos bem enquadrados, a produção competente com muitos figurantes, como nas exuberantes cenas de Réveillon carioca (e além da produtora Conspiração, teve a ajuda de amigos como Flora Gil e Luciano Huck), o elenco de apoio famoso (Susana Vieira, Miele, Luis Gustavo, Kate Lyra, Andréa Beltrão que tem a melhor cena) ou promissor (a bela Elena Sopova), uma trilha musical muito bem cuidada (que inclui até canção Bonnie e Clyde, com Brigitte Bardot e valsas clássicas). Ou seja, Andrucha continua em forma e se esmera em não deixar os atores caírem nem na grosseira, nem escracho. Por outro lado, este não é um projeto que merecia sua atenção ou cuidado, não é um filme que precisava ter feito.

Segundo ele mesmo admite, a história foi concebida para ser estrelada pela dupla Rodrigo Santoro e Selton Mello. Só de falar a gente já imagina no que poderia resultar. Mas quando não deu certo com eles, teria sido melhor se tivesse desistido. Acabou por chamar dois comediantes relativamente pouco famosos, Marcelo Adnet (MTV) que faz Marco Polo, ainda tem aparecido em comédias recentes, mas eu não conhecia o que faz Beto (Eduardo Sterbitch, do Pânico na TV). Até que eles se saem bem, principalmente Eduardo, que por vezes me lembrava John Belushi, Peter Lorre ou um sertanejo de olhos tristes. Fizeram até um trabalho notável, a questão é que quando vemos um comediante novo, custa um tempo para nos acostumarmos com sua “persona”, seu tipo de humor, ainda mais quando é um personagem esquisito como Beto, que vive beijando os outros na boca e se apaixonando. Normalmente numa dupla tem o Straight Man, o escada (ou seja, o Dean Martin) e o outro é o palhaço, o Jerry Lewis. Mas Eduardo não é exatamente engraçado, por vezes procura o patético, o sentimental, a criança perdida.

O problema maior deles é simplesmente o roteiro e a expectativa. Esta não é uma comédia muito engraçada, não tem piadas fortes, não tem apelação, mas também porque faltam simplesmente situações mais divertidas. Ou mesmo gags. Parece que a intenção era fazer algo mais perto de Se Meu Apartamento Falasse, de Billy Wilder, uma comédia com crítica social á la italiana (vejam o discurso dos dois policiais lamentando como no Brasil as pessoas ficaram desonestas e malandras). Pena que para isso o filme esteja sendo vendido errado e temo que não vá funcionar com a plateia que se acostumou com baixaria.

Marco Polo é um vigarista assumido que vive de expedientes, que larga uma garota num hotel, vai explorar turistas (tudo muito filme de Vittorio Gassman) e acaba por ajudar um interiorano com grana, Beto, que não se conforma em ter sido largado por sua amada Laura. Assim Marco (ajudado por seu parceiro mais velho Stepan Nercessian) vai ao hotel atrás dela, sempre recorrendo a truques, e encontra uma Laura na piscina (Mariana Ximenes, num papel de pouca chance, mas que ela faz de forma simpática e muito bem composta, inclusive nos figurinos). Ela na verdade é garota de programa e os dois comparsas estarão atrás dela furando então as duas festas, a chique oficial e a do Réveillon na cobertura. Por sinal, o filme divulga também o fato para mim desconhecido que própolis seria uma droga que provoca barato, o que deve provocar uma corrida às farmácias! Ao final, temos também umas poucas cenas mais de brincadeiras de bastidores do que outra coisa.

Enfim, Os Penetras é um filme arriscado porque não é pornochanchada como os anteriores. Ainda assim eu gostei de ver, achei um filme agradável com gente talentosa. No atual estado de coisas, me parece muito.