Crítica sobre o filme "Palavras, As":

Rubens Ewald Filho
Palavras, As Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/11/2012

Não promete ter vida longa em cartaz este drama recente (que havia estreado em Sundance) que marca a estreia na direção de dois amigos do ator Bradley Cooper (o roteiro foi escrito em 1999 e prometido a ele, quando ainda não era famoso. Brian é sobrinho do ator Jack Klugman e escreveram antes o argumento de Tron: o Legado que não é das melhores recomendações).

Ainda assim o filme tem um elenco interessante, um tema literário (ou seja, para poucos) e uma trilha musical do brasileiro Marcelo Zarvos, que incomoda um pouco por lembrar demais o trabalho de Philip Glass. É uma produção modesta de 6 milhões de dólares, que rendeu nos EUA até agora 11 milhões e 400 mil.

Antes de tudo lhe falta originalidade. Essa história de um escritor frustrado se apoderar de um manuscrito alheio (em geral perdido) já foi usada inúmeras vezes até mesmo por Stephen King (com Johnny Depp, em Uma Janela Secreta, 04). Mas não tinha a pretensão deste filme que tem um certo ar europeu sofisticado (novamente Paris é citado e mostrado como o paraíso do intelectual), mas se perde inteiramente quando tenta contar uma história dentro da outra.U

Um escritor famoso (o sempre horrível Dennis Quaid) lendo um livro dele para uma plateia, flertando com uma desconhecida (a linda Olivia Wilde) o que nos faz esperar uma revelação mais concreta ao final que não fosse o óbvio (Spoiler: que eles seriam a mesma pessoa, o que tem que ser descoberto a partir de uma encarada que Quaid dá para a câmera!). Já que suas filosofadas sobre a vida são de uma chocante superficialidade (sobre ter que viver com suas escolhas de vida).

Sendo que o problema básico é que todo mundo louva a qualidade do texto, mas tudo o que se ouve é de uma enorme banalidade, má literatura. Parece um script feito por pessoas que gostam de literatura (embora ainda insistam em Hemingway como modelo quando ele está totalmente fora de moda), mas não são bons escritores. E o resultado é esquizofrênico, começando já com o herói ganhando um importante prêmio literário por seu best-seller e sendo seguido por um velho misterioso (Jeremy Irons usando toda sua “britanice” num papel ingrato).

Quaid é quem conta a história desse jovem (Bradley) que sonhou a vida inteira em ser escritor e dedica anos de seu tempo para conseguir isso, vivendo com sua bela mulher (Zoe, de Avatar) e conseguindo dinheiro do pai. Até quando, na lua de mel com Zoe (como arranjaram o dinheiro?), eles visitam um antiquário onde ele compra uma pasta antiga que traz dentro um manuscrito (a máquina) vejam que sorte escrita em inglês! E tão bom que ele não resiste a tentação de rouba-lo, dizendo-se o autor. Que seria, portanto, o livro que o consagra.

Outro flashback irá explicar o resto. O velho vai atrás do falsificador e lhe conta como foi soldado na Segunda Guerra em Paris (feito por Ben Barnes, de Narnia) se apaixonou por uma francesa (a realmente francesa e bela Nora Arzeneder, de Protegendo o Inimigo) e escreveu um romance sobre uma tragédia que eles tiveram. Mas o velho tem uma reação surpreendente e o filme acaba se perdendo numa conclusão insatisfatória.

O galã Bradley já dá sinais de envelhecimento, mas nenhum aprofundamento dramático. Mas o elenco ao menos é fotogênico e ajuda a sustentar um filme que no final se revela uma besteira.