Crítica sobre o filme "Sem Novidade no Front":

Rubens Ewald Filho
Sem Novidade no Front Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/11/2012

Famosa adaptação do livro Nada de Novo no Front Ocidental, de Erich Maria Remarque (1898-1970), que foi casado com a estrela de Paulette Goddard e escreveu sucessos como Arco do Triunfo, Tempo para Amar, tempo para esquecer de Douglas Sirk, que lembra muito este filme inclusive na cena final, Náufragos, Bobby Deerfield, Orquidea Branca, Os Três Camaradas, de Frank Borzage, a pouco conhecida continuação deste filme The Road Back,37, de James Whale que foi proibido no Brasil e ia se chamar Depois. Foi premiado com o Oscar de Filme ( o primeiro para a Universal) e Diretor que foi o hoje esquecido Lewis Milestone.

Vamos saber um pouco mais sobre ele:

Lewis Milestone (1895 – 1980): Diretor americano, nascido na Ucrânia e educado na Rússia, Alemanha e Bélgica. Foi em 1913 para os Estados Unidos ingressando no cinema como montador. Foi assistente de Henry King, Sennett, Ince, trabalhando posteriormente para o teatro e produzindo para a TV. Seu melhor filme: Sem Novidade no Front, um clássico pacifista premiado com o Oscar.

Nos últimos anos, teve um acidentado retorno com O Grande Motim (assinado por ele, mas que teve cenas feitas por meia dúzia de diretores diferentes) e O Herói do PT 109 (que ele abandonou para Leslie Martinson). Estreou na direção em 1925 com Seven Sinners. Uma curiosidade: em 1928, ano da criação do Oscar, venceu como diretor de comédias (competindo com Chaplin), categoria que só existiu nesse ano, com o filme Dois Cavaleiros Árabes.

O Filme

Este ainda é um dos filmes mais poderosos, famosos e mais imitados do gênero em todos os tempos, de considerável influência, já feito contra a Guerra. E apesar da época sem papas na língua. A desilusão é total e não há desculpas, nada da perfumaria de Spielberg em Cavalo de Guerra, aqui tudo é para valer. Se considerando a época.

O crítico Robert Osborne do TCM americano faz uma apresentação do filme, mas basicamente se fixa apenas na figura do ator principal, Lew Ayres (1908-86).

Ele era muito jovem e até parecia um pouco John Wayne, tinha feito O Beijo, com Greta Garbo e segundo diz Osborne o diretor de Elenco George Cukor o tinha recusado. Mas Milestone o impôs e Lew virou astro, tendo grande sucesso na MGM, onde criou o papel do famoso Dr. Kildare, numa série de filmes (aquele mesmo que na TV seria vivido por Richard Chamberlain). Mas ficou tão impressionado com o filme que se declarou pacifista e recusou usar uma arma durante a Segunda Guerra quando foi convocado.

Assim acabou sua carreira e prestígio, mas ele se reabilitou trabalhando no Serviço Médico enfrentando perigos e bombardeios, de forma que acabou sendo perdoado e retomou a carreira. Fez filmes importantes como Belinda, com Jane Wyman (que lhe deu indicação ao Oscar), Espelhos d´Alma, com Olivia de Havilland, A Cruz de um Pecado, com Ann Sheridan, Na Solidão do Inverno, de John Sturges, o cult Donovan´s Brain/Experiência Diabólica, Tempestade sobre Washington, A Batalha pelo Planeta dos Macacos (num total de 152 créditos).

O fato é que a mensagem pacifista não perdeu sua eloquência no rosto inocente do herói Paul e a cena final com a borboleta é uma das mais famosas do cinema (só que a mão que aparece é do diretor Milestone e não de Lew).

Trivia

A comediante Zasu Pitts fazia originalmente o papel da mãe de Paul, mas como ela estava associada a comédias quando aparecia o público automaticamente já ria. Foi preciso substituí-la por outra, Beryl Mercer. Embora os nazistas ainda não estivessem no poder, quando o filme estreou eles interrompiam o filme gritando slogans soltando ratos nos cinemas alemães.

Ele seria proibido depois na Alemanha até 1956. Até então era preciso ir a Suíça vizinha para conseguir assisti-lo. O futuro diretor Fred Zinnemann faz ponta como um dos soldados. Foi rodado pelo preço de $1.25 milhões, teve dois mil figurantes.

Foi um enorme risco da Universal produzi-lo tão próximo do Crash da Bolsa de 1929. Ficou em sétimo lugar na lista do American Film Institute no gênero épico e em 54, na lista dos melhores de todos os tempos. Uma figura marcante no filme é Louis Wolheim que faz o sargento. Ele ia rodar logo depois A Primeira Página, com Milestone, quando morreu inesperadamente de câncer em 1931.

O texto na abertura do filme diz: “Esta história não é nem uma acusação, nem uma confissão, menos ainda uma aventura, porque a morte não é uma aventura que se possa enfrentar cara a cara. Simplesmente tenta contar sobre uma geração de homens que, embora tenham escapado das bombas, foram destruídos pela guerra”, ou seja, ainda um filme poderoso e recomendado.