Crítica sobre o filme "Elefante Branco":

Rubens Ewald Filho
Elefante Branco Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/11/2012

A expressão-título tem o mesmo significado que no Brasil, uma coisa que é grande e não serve para nada. No caso, um enorme edifício de Buenos Aires que foi concebido em 1937, para ser o maior hospital da América o Sul, mas foi deixado inacabado em 1955, no golpe que derrubou Peron e desde então ficou abandonado.

Em torno dele criou-se uma enorme favela (chamada da Miséria) e naturalmente o tráfico de drogas e emigrantes clandestinos. É lá que vive um padre bem intencionado, já veterano, Julian (Ricardo Darin), que no começo do filme ajuda um padre emigrante Frances Nicolas que escapou de ser morto no trabalho anterior e que agora se culpa por estar vivo (em alguma região que parece a região amazônica do Peru).

O papel é curiosamente feito pelo ator belga Jéremie Renier, que adolescente fazia os trabalhos de Ozon e que tem uma interpretação (em espanhol) convincente, bem humana e simpática (até porque cai na tentação de transar com a assistente social com quem trabalha).

Se é verdade que o filme se atrapalha um pouco demorando a apresentar os personagens e a situação, o impacto da vida miserável e a denúncia social se dilui um pouco pelo excesso de personagens, raramente vi uma fotografia tão boa (há momentos belíssimos, em particular da chuva e vários planos-sequência) e uma trilha musical do famoso inglês Nyman, de O Piano e filmes de Greenaway).

E parece evidente que há um clima de tragédia eminente diante da história do padre favelado. Inclusive pela dedicatória (dedicado à memória do Padre Mugica, assassinado em 1974 e cuja morte até hoje não foi esclarecida). No entanto, Ricardo Darin, impressiona menos que costume.

É um filme perfeitamente coerente com a obra de Pablo Trapero e chegou a passar em Cannes, no Un Certain Regard. Certamente seu trabalho é técnica e visualmente mais benfeito. Mas, talvez, justamente por ser menos “sujo”, pareça menos enraivecido e a denúncia perde um pouco de seu impacto. Também serve para calar a boca dos que diziam que o cinema argentino só falava de sua classe média. Aqui está uma denúncia irrecusável e até surpreendente.