Crítica sobre o filme "Sol é Para Todos, O":

Rubens Ewald Filho
Sol é Para Todos, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 05/11/2012

Hoje fica claro que Peck estava representando a si mesmo, que o advogado Atticus era quase um alter ego dele, já que toda sua vida foi um liberal, lutando contra o preconceito racial e as injustiças. Ainda assim, o American Film Institute demonstrou que adora o filme votando nele para várias coisas: Atticus Finch, o bom advogado foi escolhido pelo American Film Institute como o melhor (favorito) personagem (herói) de todos os filmes americanos dos últimos cem anos!

Não ficou apenas nisso, nas listas do AFI ficou ainda 1) em segundo lugar na lista dos filmes mais inspiradores de todos os tempos; 2) primeiro lugar na lista dos melhores dramas de tribunais; 3) em vigésimo quinto lugar na lista dos melhores filmes de todos os tempos! Era também o filme favorito de Peck e segundo os quadrinhos Superman! Na verdade, a Universal queria antes para o projeto Rock Hudson e depois James Stewart (que o recusou por que achava que o roteiro era liberal demais e poderia haver controvérsia!). Peck aceitou imediatamente depois de receber o convite (mal pode esperar a noite para ligar para o diretor Mulligan).

A injustiça

Em todos os louvores ao filme, dá a impressão de que ele foi feito sozinho, magicamente, sem dar o devido valor a seu excelente diretor Robert Mulligan (1925-2008) e o produtor Alan J. Pakula (1928-98). Este foi o primeiro dos seis filmes que os dois fizeram juntos. Depois Pakula passaria a dirigir sozinho e com muito êxito, inclusive com Klute, com Jane Fonda, Todos os Homens do Presidente). Mas infelizmente morreria num desastre de automóvel. Algumas vezes eu procurei encontrar Mulligan em Hollywood, mas ele se aposentou cedo, nunca soube o porquê. Mas vale recordar sua carreira:

Robert Mulligan (1925- 2008): Diretor americano, nascido em 23 de agosto, no Bronx, em Nova York. Um dos nomes mais importantes da primeira Geração-TV. Estudou para ser padre, mas a guerra o fez interromper o curso. Na volta trabalhou como officeboy na CBS até conseguir ser assistente e, por fim, diretor de centenas de shows, ainda na época da televisão ao vivo. Toda a fase intermediária de sua carreira contou com Alan Pakula como produtor. Como este, fez depois uma importante carreira como diretor, alguns discutem onde estaria a verdadeira força criadora do team. Mas sozinho Mulligan teve sua consagração com Houve Uma Vez Um Verão e A Face Inocente do Terror, gêneros diferentes que demonstram talento e sensibilidade. Sua carreira caiu, entretanto, em pequenos filmes sem importância, a simpática comédia Tudo Bem no Ano que Vem (teatro filmado da peça de Bernard Slade) e o fracassado Meu Adorável Fantasma (nada menos que uma filmagem disfarçada de Dona Flor e seus Dois Maridos, de Jorge Amado). Foi substituído por George Cukor em Ricas e Famosas, logo depois de iniciadas as filmagens. Aposentou-se muito cedo sem dar chances de reconhecerem seu talento. Morreu no Connecticut, em Lyme, em 20 de dezembro. Irmão do ator Richard Mulligan (1932-2000).

Conclusão

Como eu disse, os americanos adoram o filme. Ele teve indicação aos Oscars de atriz coadjuvante. Mary Badham, que foi a mais nova em todos os tempos a ser indicada, mas não fez outro filme, ela é irmão do diretor John Badham), diretor, fotografia, trilha musical (Elmer Bernstein) e filme. Ganhou direção de arte, roteiro do dramaturgo Horton Foote e ator o único da carreira de Gregory Peck, que naquele ano enfrentava Burt Lancaster, O Homem de Alcatraz), Jack Lemmon (Vício Maldito), Marcello Mastroianni (Divórcio à Italiana) e Peter O´Toole (Lawrence da Arábia). Peck (1916-2003) já havia sido indicado antes por As Chaves do Reino, 46, Virtude Selvagem, 47, A Luz é Para Todos, 48, Almas em Chamas, 50 e em 1968 levou o prêmio humanitário Jean Hersholt.

O livro original de Harper Lee ganhou o Prêmio Pulitzer e a adaptação resultou num filme discreto e sensível. Eles pretendiam rodá-lo em locações na cidade da autora, mas esta havia se modificado com o passar do tempo. A melhor solução foi quando descobriram que uma cidadezinha do Vale do San Fernando ia ser demolida e tinha casas idênticas aos do Sul. Foram compradas e transplantadas para o lot do estúdio da Universal onde tudo acabou sendo rodado. Harper visitou as locações e aprovou tudo.

É curioso que ela era amiga de infância do escritor Truman Capote, em que ela se inspirou para o personagem de Dill. Um fato muito importante a se ressaltar é que o filme com sua mensagem anti-preconceito racial foi feito antes do Ato dos Direitos Civis do Presidente Lyndon Johnson que é de 1964. E antes dos discursos de Martin Luther King (Eu Tenho um Sonho, de 63).

Ou seja, em 62, o filme era muito corajoso e ousado. Este sim e não aquela besteira de Histórias Cruzadas! Mas é bom lembrar que Peck tinha estrelado também O Sol é Para Todos, de 47, que foi o primeiro filme a criticar o preconceito contra judeus (e ele nem era judeu). Eu também sou culpado de nunca ter admirado tanto este filme, mas eu me lembro de ter lido o livro antes da estreia e ter gostado muito.

Atenção: a narradora no filme que seria a menina Scout adulta é feita pela grande Kim Stanley (1925-2001), uma lendária atriz da Broadway que fez muito pouco cinema. Lembro do livro que era em cima do pássaro Mockingbird. O nome seria esse porque ele macaqueia os outros, é um bicho muito brincalhão e matar um deles seria um absurdo e uma estupidez!

Contado então pela menina, o filme segue de forma bem fiel o livro, sem mudar muita coisa. O problema ainda é o negro injustamente acusado do crime e o advogado que aceita a causa de defendê-lo, apesar de ser impopular e poder mesmo lhe custar perseguições e até coisa pior. Ainda assim ter que fazer a coisa certa. Nesse conflito quem tem um papel chave é um ator estreante que depois faria muito sucesso Robert Duvall.

Ele fala muito pouco como um jovem perturbado que permanece escondido na casa do pai, com o rosto muito branco e o cabelo loiro arrepiado. Aliás, Duvall já revela o inegável talento.