Continuo achar que os diretores brasileiros de cinema têm medo da emoção. Depois de esperar duas horas pela reconciliação de pai e filho eu estava aguardando a inevitável cena dos dois cantando juntos, certamente algum clássico. Nada disso. O filme termina com imagens do arquivo, mantém seu tom sobrio de sempre. Cadê meu momento de catarse?
Baseado em biografia da Regina Echeverria, o filme biográfico podia optar por vários caminhos. Preferiu contar de forma tradicional a vida do grande Luiz Gonzaga, o rei do Baião, ocasionalmente intercalando cenas de documentários, optando por três atores para o personagem (depois a mesma com o Gonzaguinha). O que fica com a melhor parte é um rapaz simpaticão, tocador de sanfona até no nome.
A verdade é que nenhum deles é bom ator, o que prejudica muito o filme que não se segura em momentos dramáticos. A única exceção é mesmo Julio Andrade, revelado em Cão sem Dono, mordomo gay em Passione, que está sempre bem e ficou extremamente parecido com Gonzaguinha e dá muita dignidade ao personagem. Que pena que não conseguiram encontrar outros do mesmo naipe. Eu gosto da Nanda Costa (que agora estrela a novela das nove da Globo) mas nem ela acerta como a primeira mulher de Gonzaga, garota de dancing, mas que morreu cedo deixando ele com a missão de cuidar do filho. Os coadjuvantes em geral são piores ainda (menos Silvia Buarque, que quase não abre a boca, mas sempre dá humanidade ao pouco que lhe deixam fazer).
O grande problema do filme é simples. Luiz Gonzaga era um gênio da música, um grande mestre da comunicação, mas como pessoa não era nenhuma maravilha. O filme esconde o apoio que ele deu ao governo militar (ao menos dilui) e disfarça um pouco o péssimo pai que foi tratando o filho da maneira mais errada terminando por fechá-lo num colégio interno no interior. Mas o velho era tão teimoso e fechado que nem é preciso dar a palavra ao filho (coitado do personagem do filho, que não tem chance de se expressar, em geral está sendo escorraçado e também é prejudicado na parte musical, sendo pouco representado para quem tem uma obra tão representativa). E de repente, mal eles fazem as pazes, os dois morrem, o pai seguido pelo filho um ano e meio em acidente de carro (também sem qualquer detalhe). Mas também de Gonzagão há muitas músicas famosas e mesmo fundamentais que não estão no filme. Como não ficar frustrado?
Resultado: um esboço do filme que poderia ter sido e não é nem sombra dos Filhos de Francisco do mesmo diretor e produtora.