Crítica sobre o filme "Tesouro de Sierra Madre, O":

Rubens Ewald Filho
Tesouro de Sierra Madre, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/09/2012

Confesso que por uma razão ou outra, eu nunca assisti este filme inteiro. Isso aumenta minha admiração por esta aventura clássica enxuta, violenta, em especial para a época e que ainda não foi superada como parábola sobre a ambição e cupidez humana, capaz de qualquer coisa por ouro ou dinheiro.

É provavelmente o melhor trabalho do diretor John Huston (1906-87), em começo de carreira, mas em grande forma e pelo qual recebeu merecidamente os Oscars de Direção e Roteiro (adaptando o livro de sucesso na época, escrito por autor misterioso B. Traven, cuja identidade ninguém pode determinar até hoje). Huston melhorou o equilíbrio entre os personagens e os caracterizou mais claramente: o velho (Walter Huston, que ganhou Oscar de coadjuvante e na vida real era pai do diretor. Anos depois John daria também outro prêmio de coajduvante para sua filha Anjelica). Sem cair em caricatura o velho dá a impressão de que já viu tudo e apenas acompanha tranquilamente o desenrolar dos acontecimentos em oposição aos dois jovens, um mau, mesquinho (Claro, que Bogart) e agressivo e o outro bom, mas passivo e indeciso (Holt). Como em muitos dos filmes de Huston, ele faz um contraponto irônico entre os planos ambiciosos que as pessoas constroem e os pequenos movimentos que o destino faz para destruí-los.

O roteiro é repleto de coincidências e acasos que sugerem a fatalidade conduzindo-os para a beira do abismo. Foi um dos primeiros filmes a serem feitos em locações (no México, numa região que Huston adorava, embora cenas noturnas tenham sido feitas em estúdio para terem melhor qualidade) e isso lhe dá uma grande autenticidade e cor do local. Além disso, o elenco é excelente: Walter Huston (1883-1950 – era um ator de grande prestígio, mas que nunca chegou a ser um astro e aqui, em um de seus últimos filmes, tem um de seus melhores momentos e pelo qual é mais lembrado (ele não aparentava a idade para o papel e usou bastante maquiagem para envelhecer; além disso, atuou sem dentadura para adicionar autenticidade ao velho mineiro!); Bogart está simplesmente perfeito como um dos vilões mais desagradáveis e repulsivos de sua carreira (e pelo qual, por um daqueles mistérios da Academia, sequer foi indicado ao Oscar!), e Tim Holt (cowboy de faroestes Bs,e ainda em filmes como No tempo das Diligencias e Paixão dos Fortes, ambos de John Ford e de Soberba, de Orson Welles), O filme tem ainda várias pontas curiosas: o próprio diretor faz o americano de terno branco que dá dinheiro para Bogart logo no começo do filme; o pequeno mexicano que vende loterias é feito por Robert (Bobby) Blake, mais tarde o Baretta da TV; o pai de Tim Holt, o astro de westerns e filmes de ação Jack Holt aparece brevemente na hospedaria conversando com Walter Huston; e, numa brincadeira com o diretor, a estrela da Warner Ann Sheridan teria feito uma prostituta que passa rapidamente pela calçada e depois é vista ao fundo entrando em um hotel (nesta cópia é uma mexicana desconhecida e Não Sheridan).

A trilha musical soturna e fatalista de Max Steiner acrescenta muito ao resultado final e é das melhores entre as inúmeras que o mestre fez para o estúdio. Excelente edição traz Making-of realizado em 2003, o documentário com 130 min John Huston: Homem, Diretor, Inovador (John Huston: The Man, The Movies, The Maverick, 1989), galeria de imagens, noticiário da época, o curta Uma História de Detetive (So You Want To Be A Detective, 1948), com Joe McDoakes, os desenhos do Pernalonga Uma Experiência Chocante (Hot Cross Bunny, 1948) e Esse Pingüim É Uma Fria (8 Ball Bunny, 1950), tudo legendado; mais elenco, prêmios, trailer e trilha de comentários do biógrafo de Bogart, Eric Lax.

A frase “Badges (Identificação, crajá) não precisamos deles”. Foi votada como a 36ª mais famosa do cinema. Nas cenas que Walter Huston fala espanhol teve que aprender foneticamente. Huston teve problemas para filmar em Tampico e só se livrou para ajuda dos famosos pintores Diego Rivera e Miguel Covarrubias. Reza a lenda que Traven visitou o set escondido.

O filme custou 3 milhoes de dólares, mas era um dos favoritos do chefe da Warner, Humphrey Bogart nessa época estava ficando careca por causa dos hormônios que tomava para ter filho com Lauren Bacall. Quando o projeto foi iniciado pensava-se para o elenco: George Raft, Edward G. Robinon e John Garfield. Foi votado o 38º melhor filme americano de todos os tempos. O vagabundo sentado ao lado Walter Bordel é Jack Holt, pai de Tim. Huston queria fazer o livro desde que o leu em 1936. Ele é inspirado num poema alemão; do século 16. O exito O Falcão Maltes lhe permitiu rodar o projeto. A morte final iria ser violenta com machette e uma cabeça rolando, mas o estúdio não quis.