Gostaria muito de ter tido em competição em Gramado este novo trabalho do diretor paulista Giorgetti. Mas ele se considera um veterano, não quis competir e não havia espaço para convidados e assim ficamos sem este interessante drama de época, outra história sobre a ditadura militar só que sobre outro ponto de vista.
Íntimo e tendo como dois tipos inteiramente diversos que nunca se encontram. Mas são vítimas de um mesmo sistema, uma mesma ordem que não podem derrubar e tendo que driblar como podem. Nem sempre de forma verossímil para o espectador de hoje. Mas é outro filme que vivi coisas parecidas até no mesmo bairro e posso garantir que era possível e nem todos são bandidos como gostam de pintar os desinformados dramaturgos de hoje em fora. A não ser por uns furibundos fascistas dos dois lados, éramos todos vítimas caladas e surdas, mal informadas. Era uma pequena tragédia nos fazendo lembrar aqueles filmes franceses sobre perseguição de judeus que tem que se denunciar pela lei, mas é preciso encontrar algum artifício nas sombras, na resistência dos artistas.
Tomara que haja público para este tipo de filme de poucos lances dramáticos, nenhuma demagogia, ou pregação fácil. Nunca vi uma melhor interpretação de Emilio Mello, que vem raramente a São Paulo, do que aqui. Julguei erroneamente um tipo, um coadjuvante. Fazendo um diretor de teatro da época em conflito, porque não é comunista, mas monta peça patrocinada por eles. Ao mesmo tempo, um casal de estudantes esconde um dito subversivo no porão da casa do avô que é alta patente militar (o grande Walmor Chagas) com seu porte sombrio e magnífico.
Como veem, o drama é conflito, o medo de ser preso e torturado, a luta do general em seguir a lei e não sacrificar seus princípios e tradições porque viveu toda a vida. Finalmente o rapaz (Geraldo) que também é apolítico e por amor pode perder tudo. Ou seja, a vida é mesmo um cara ou coroa, às vezes se ganha, com frequência se perde.