Crítica sobre o filme "Vingador do Futuro, O":

Rubens Ewald Filho
Vingador do Futuro, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/08/2012

Nunca foi especial admirador do filme original de 1990 e nem o revi recente. Mas acho esta refilmagem superior e muito melhor do que possa parecer (principalmente por ter sido mal recebido nos Estados Unidos, onde rendeu agora apenas US$ 45 milhões para um orçamento de US$ 125 milhões). Mas é um filme de ação incessante, muito bem realizado (por Wiseman famoso pela série Anjos da Noite/Underworld e marido da estrela do filme, a inglesa Kate Beckinsale, que está em esplêndida forma para os seus quase 40 anos e faz o papel da mulher do herói. Seu papel era originalmente de Sharon Stone, às vésperas do estrelato com Instinto Selvagem só que obviamente ela está mais tratada e com participação mais marcante). O filme é tão intenso que eu precisava ir ao banheiro e adiei até o último momento porque não encontrava brecha que pudesse perder.

Embora o diretor Paul Verhoeven fosse competente, o astro Arnold Schwazernegger, em 1990, estava em pleno aprendizado e o resto do elenco era do segundo time. A história atual modifica muita coisa principalmente por não tem nada a ver com Marte e ninguém viaja para lá. O original foi indicado para o Oscar de efeitos especiais. Original na época onde se falava muito em imagens virtuais envelheceu bastante até porque visualmente é discutível e próximo do cafona. Mas certa maneira é um clássico da ficção científica (meio kistch) do gênero. Longe, porém, de ser novo Blade Runner apesar de ser baseado em conto We Can Remember if for You Wholesale, do mesmo autor Philip K. Dick.

Na outra versão passada no ano 2048, Quaid é um operário, perturbado toda noite pelo mesmo sonho: ele está em Marte à procura da bela Melina. Contra a vontade de sua esposa Lori, Quaid procura os serviços da empresa Recall, que afirma poder ajudá-lo a tornar o seu sonho realidade, através de uma maravilhosa viagem virtual pela mente, utilizando apenas um poderoso medicamento alucinógeno. Mas essa experiência traz consequências inesperadas, o medicamento reativa uma parte da memória de Quaid que havia sido apagada. Na verdade, ele não é Quaid, mas sim um perigoso terrorista que luta contra a opressão marciana. Lori não é sua esposa, é uma agente inimiga e o planeta vermelho está no coração de uma trama estarrecedora. Quaid terá que fugir de assassinos implacáveis e ir até Marte, onde as lembranças e os perigos esperam por ele.

Aqui a trama é diferente: Douglas Quaid também é perturbado por pesadelos, mas a história se passa em dois lugares que são os únicos que sobraram depois de um grande conflito, a Grã Bretanha e sua colônia que seria a antiga Austrália, para onde se viaja muito rapidamente, habitado por operários muito pobres. A Inglaterra estaria sendo vítima de terroristas, mas que na verdade lutam pela liberdade e igualdade, já que é um reinado de terror dominado por soldados vestidos a la Star Wars. Mas Quaid realmente vai parar no tal do Rekall (com K) onde começa a descobrir que há algo errado com ele, não é a pessoa que imaginava ser. Dali em diante o ritmo continua frenético, com perseguições que lembram um pouco Minority Report (também com o mesmo ator Farrell e que foi originalmente concebido como uma continuação de O Vingador original).

Colin Farrell não repete a proeza de Na Mira do Chefe, mas felizmente não retornou a ser o canastrão dopado de muitos filmes de Hollywood. Está mais grisalho, bombado de corpo (com maquiagem que escondem suas tatuagens) e de vez em quando revela alguma emoção, ou ao menos alguma reação. Mas ainda está longe de ser o ator ideal para o papel e acredito que seja o principal motivo para o fracasso do filme nos EUA. Como já está ficando difícil aguentar Bryan Cranston novamente noutro filme e fazendo outro vilão, estão exagerando em usar o astro da série cult Breaking Bad. Jessica Biel é uma mulher atraente, mas está particularmente apática. Ou seja, não é filme para ninguém ganhar Oscar. Mas eu gosto da direção de arte, da concepção do futuro e principalmente da aventura que não para nunca.

Entre as trivias a que acho mais interessante é que Ethan Hawke tinha um papel que tinha um longo monólogo de cinco páginas que foi cortado na edição final (mas deve sair em Home Video). Tom Hardy e Michael Fassbender foram considerados para o papel de Quaid e teriam feito melhor. Para Lori, a esposa, pensaram em Diane Kruger e Kate Bosworth e para Melina, Eva Green, Rosario Dawnson e Paula Patton, Eva Mendes. O livro que ele lê é 007 o Espião que me Amava, de Ian Fleming, e a música que toca no piano é o terceiro movimento da sonata número 17 , de Beethoven, em D menor, Op. 31, n. 2. O filme já chega no fim da temporada de blockbusters de verão (e resta só chegar o Legado Bourne), o que também pode explicar o cansaço do público. Mas acho que o filme merece uma chance.

Quem foi Philip K. Dick?

Está sendo lançado agora um livro pela Editora Aleph chamado Realidade Adaptadas - Os Contos de Phillip (Kindred) Dick, que inspiraram grandes sucessos do cinema, aproveitando também que está em cartaz a nova versão de O Vingador do Futuro (Total Recall). O livro traz Lembramos para Você o preço de atacado de O Vingador, segunda variedade de Screamers, Assassinos Cibernéticos, Impostor (de Impostor), o relatório minoritário de Minority Report- A Nova Lei, O Pagamento do filme homônimo, O Homem Dourado de O Vidente, Equipe de Ajuste de Os Agentes do Destino.

Dick nasceu em 16 de dezembro de 1928, em Chicago, e morreu cedo em 2 de março de 1982, em Santa Ana, Califórnia, de enfarto. Teve uma irmã gêmea, Jane, que morreu oito semanas depois por ter alergia ao leite da mãe. Os pais se separaram e ele se mudou para Berkeley, Califórnia. Sua primeira obra publicada foi em 1952, com o conto Roog. Seu primeiro romance foi Solar Lottery, em 1955. Durante as décadas de 1950 e 1960, escreveu e vendeu quase uma centena de contos e duas dúzias de romances incluindo Do Androids Dream of Electric Sheep?, (que virou Blade Runner) Time Out Of Joint, The Three Stigmata of Palmer Eldritch, e o premiado Hugo - The Man In The High Castle.

Isso apesar de uma vida caótica (foi casado cinco vezes e teve três filhos), junto com experiências com drogas, perturbaram sua carreira nos anos 1970. Depois de uma ausência de alguns anos, retornou em 1974 com o premiado, Flow My Tears, The Policeman Said. Mais marcante foi uma profunda experiência religiosa que iria alterar sua vida. Ele disse ter sido visitado de Deus, ou ao menos alguém que parecia Deus. No resto de sua vida escreveu ou comentou essa visitação. Que podia ser revelação divina ou sintoma de esquizofrenia. Seus últimos trabalharam giram em torno disso, em especial Valis, em que personagem-título é um Deus extraterreno.

Apesar dos prêmios e prestígio, Dick nunca foi financeiramente bem-sucedido, já que escrevia para editoras pequenas de ficção científica. Por isso que escreveu muito e só no final da vida recebeu algum dinheiro pelos direitos de Blade Runner. Mas antes da estreia do filme morreu aos 53 anos. Várias novelas inéditas foram póstumas. Antes, porém, teve a chance de ver 20 minutos de Blade Runner e considerou uma obra-prima. Atualmente estão em preparação uma refilmagem ou continuação de Blade Runner - Nebulus, de Brian T. James (inspirado em suas obras).