Breno Silveira já foi um dos maiores fotógrafos do cinema brasileiro em filmes como Carlota Joaquina, Eu Tu Eles, O Homem do Ano. Quando passou à direção, acertou em cheio, realizando em 2005 o mega sucesso Os 2 Filhos de Francisco, com a dupla Zezé de Camargo e Luciano, que foi seguido pelo bonito mas médio Era uma vez, um Romeu e Julieta na Favela, e agora por outro drama romântico, À Beira do Caminho, cuja maior atração é justamente contar com as canções de Roberto Carlos que, como se sabe, é muito difícil de liberar suas composições para o cinema. É basicamente um filme de estrada, com música de Roberto Carlos, uma história de amor e redenção. O herói é um caminhoneiro, João Miguel, traumatizado por um drama do passado, que com relutância dá carona a um menino sem família que deseja ir para São Paulo, onde estaria vivendo seu pai. No caminho, eles, como a maior parte dos brasileiros, ouvem Roberto. O roteiro é de Patrícia Andrade, que fez o acerto de 2 Filhos de Francisco, mas também os equívocos de Podecrer, Salve Geral (um pavor), Besouro. Coloque este na coluna dos erros. Embora o filme tenha ganho o Festival de Recife, ele ficou marcado por problemas de produção muito tocantes (foi interrompida sua edição porque a mulher do diretor ficou muito doente e ele cuidou dela, acabando por dedicar o filme em sua homenagem. Hoje, ele já está concluindo uma biografia de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, para estrear ainda este ano).
Lembro do projeto de À Beira do Caminho ainda de Paulínia, onde foi parcialmente rodado. Digo com pesar, mas não gostei do filme. Não gosto da história que é banal e por demais simplória, já vista inúmeras vezes no cinema, a amizade relutante entre um herói traumatizado que aos poucos vai se abrindo para a figura de um menino sem família, no caso, ele procura pelo pai que viveria em São Paulo e de quem tem uma foto e endereço. A melhor coisa, de longe, certamente é o menino que faz o garotinho, que tem um ótimo trabalho, discreto, sensível, sem afetações. Pura verdade. O protagonista, o bom ator João Miguel, faz o caminhoneiro que fica traumatizado por um erro do passado, que afinal de contas não conseguimos entender qual seja, já que tudo é mal mostrado em alguns flash backs rápidos demais (aparentemente num acidente de carro, provocado por ele ter bebido demais!). Mas olha, pode ser outra coisa também, porque fica bem confuso. O que me incomoda é que esse caminhoneiro passa anos girando pelo interior do Brasil fazendo entregas (pelo jeito muito mal, porque leva dias a mais para entregar os melões, que aquela altura já estariam estragados!). Enfim, quanto tempo se passou entre a tragédia e o filme? A idade da filha que ele deixou criando com a avó, por volta de sete a dez anos, tempo mais que suficiente para ele 1) ter se destruído com bebida ou droga. 2) ter esquecido e resolvido a questão muito antes. Que falta de caráter é essa que o faz ficar perambulando amargurado de um mal que nem sabemos qual é direito, em vez de ir cuidar da filha? E sempre malcriado e grosseiro com o menino, ao menos a maior parte do tempo.
Tudo é tão previsível, tão evidente, que nem mesmo a música de Roberto Carlos chega a ajudar. Assim como a presença de duas mulheres (uma delas desperdiçando Dira Paes, a outra Ludmila Rosa, que também não tem chance de se explicar, nem um momento de despedida, já que o filme se apresentou com uma história de emoção).
Não consegui me emocionar como fico estarrecido com esses filmes que são rodados em paisagens exuberantes onde se vê nada direito, nem cidades nem montanhas fotogênicas. Vê se entrando e saindo de lugares que poderiam muito bem ser na esquina de casa. O lugar que é melhor fotografado é absurdamente São Paulo. Do Brasil do interior, se vê muito pouco ou nada. Uma pena. Não sei que tipo de público irá assistir a este tipo de filme, que parece já ter sido visto antes. E melhor.