Crítica sobre o filme "Além da Liberdade":

Rubens Ewald Filho
Além da Liberdade Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/07/2012

Os fãs de cinema são admiradores do diretor francês Luc Besson, que fez filmes cults ainda hoje em dia como Subway, Imensidão Azul, Nikita, O Profissional (que revelou Natalie Portman) e O Quinto Elemento.

Depois de ter provado que o cinema francês (europeu por extensão) poderia produzir filmes comerciais tão bons quanto os americanos, ele foi deixando a realização de lado para se fixar na produção e roteiros (em especial de muitos filmes de ação como as séries Busca Implacável, Táxi, Carga Explosiva).

Só voltou a dirigir este drama político e polêmica (quando Giuseppe Tornatore acabou recusando o projeto) porque achou que era um filme importante para ser realizado. Tinha razão. O mundo bem que está precisando conhecer melhor a vida e a saga de Aung San Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, que se tornou o símbolo da luta pela liberdade e o fim da brutal ditadura da antiga Birmania, atual Myanmar, numa história que se fixa menos na sua prisão e sofrimento e mais no seu casamento com o escritor europeu Michael Aris (vivido por David Thewlis).

O título inclusive é muito bonito, The Lady e além de tudo conseguiu a atriz certa para o personagem a estrela Michelle Yeoh, que nasceu na Malásia, já está uma senhora (nasceu em 1962), e tem tido uma feliz carreira internacional (entre eles, O Tigre e o Dragão, 007 O Amanhã Nunca Morre, Sunshine, Missão Babilônia, Memórias de uma Gueixa, Os Filhos da Guerra). O problema é que mesmo ela com sua classe e elegância, não tem uma interpretação mais marcante ou memorável.

Não sei o que sucedeu, mas todo mundo entrou no clima de baixa rotação e ao filme falta garra, urgência, emoção.

Conta uma história tão forte, tão atual e, no entanto, não vibra, não se sente o amor entre o casal tão forte que tem que enfrentar anos de prisão e humilhações. Rodado por razões obvias em Bangkok, com um roteiro que levou três anos de pesquisa e entrevistas para ser escrito, acabou sendo um fracasso internacional (lutou para ser descoberto pelo Oscar, mas não rolou). Não sei como Besson perdeu suas habituais qualidades.

Fez uma narrativa lenta, como se tivesse excesso de respeito pela história. Sem dúvida o roteiro é banal e básico, mais para minissérie do que cinema. Mostra os protestos estudantis do fim dos anos 80, a repressão violenta dos militares que acaba com a democracia e deixa Suu Kyi confinada em prisão domiciliar, mesmo depois de ter sido eleita conforme a lei e apoiada internacionalmente.

Também falta paixão ao enfoque familiar, o marido inglês professor de estudos tibetanos e do Himalaia em Oxford e que eventualmente irá sofrer de câncer. Há também um prólogo passado em 1947, quando na declaração de independência do Império Britanico, o pai da heroína é assassinado. 40 anos depois ela vive em Oxford, com os dois filhos adolescentes quando a mãe tem um derrame e ela retorna para Ragoon, onde passa a sofrer pressões para continuar o trabalho do pai.

Naturalmente essa história verdadeira provoca ressonância no espectador, mas não na medida certa (a heroína é conhecida por lá como A Orquídea de Aço.

Ficam devendo um filme mais definitivo sobre o tema.