Eu era adolescente quando assisti em Santa esta primeira aventura de James Bond, que estreou modestamente e foi bem de bilheteria. Como Santos era interior, o filme chegou com certo atraso (também nas capitais filmes no Brasil estreavam com atrasos de alguns meses a alguns anos!) e já sabíamos do sucesso do personagem (foi muito ajudado porque o presidente Kennedy ídolo na época havia declarado que era admirador do personagem e dos livros de Fleming. Além disso, as revistas da época, Manchete, O Cruzeiro e o Mundo Ilustrado, se encarregaram de divulgar a foto de Ursula Andress de biquíni!).
Embora Bond tivesse estourado mundialmente a partir do segundo filme Moscou contra 007, (Dr. No custou US$ 1.100 milhões e rendeu US$ 26 milhões no mundo todo (mas é preciso levar em conta a inflação), me lembro de que gostei tanto que o revi ao menos duas vezes mais). Naturalmente hoje o filme resulta ingênuo e modesto principalmente na parte final dos efeitos especiais e a explosão da ilha, que é uma lastima. Também é difícil aceitar hoje em dia um americano maquiado de chinês (como Wiseman que faz No, aliás, é um canastrão horrível sem o menor carisma).
Mas na primeira parte ainda é simpático e rápido, rodado quase todo em locações na Jamaica (e nos estúdios que seriam de sempre, Pinewood em Londres). Mas ao menos evita aqueles lamentáveis planos de estúdio onde se percebe claramente a projeção de fundo (aqui nota-se apenas na sequência de perseguição de carros por uma estrada a beira mar que faz lembrar as cenas de filme brasileiro rodadas na Barra da Tijuca sem muitos recursos).
Apesar disso, Sean Connery (então com 32 anos), está no auge da fotogenia e boa aparência, que justifica porque foi escolhido para o papel (ainda sem se preocupar tanto com a careca, a maquiagem, em esconder tatuagens e quase nada do sotaque escocês). Gosto do começo do filme numa rua de Kingston, onde está se ouvindo a música famosa dos Three Blind Mice (o tema em geral da trilha é o calypso, então ainda em moda desde meados dos anos cinquenta). Nos letreiros (que são em cima da atriz Martine Beswick, que voltaria em Moscou Contra 007 e Chantagem Atômica, ou seja, devia ser namorada de alguém importante!) já do criativo Maurice Binder, eles são apenas sombras que se transformam em três mendigos que caminham se apoiando pelas ruas, só para logo se revelarem assassinos que irão matar a agente britânica (e somem do filme!).
Eu não gostava do diretor Terence Young (1915-1994) que fez estes primeiros dois filmes da série, mas preciso admitir que a introdução do personagem fosse muito bem feita. Estamos no cassino, quando alguém procura por Bond e um empregado sai a sua procura na mesa de jogo. Mas não o vemos logo, antes disso o foco é numa bela morena (Eunice Gayson, que interpreta Sylvia Trench que retorna depois em Moscou contra 007 e deveria ter um papel regular nasérie. A atriz se aposentou cedo, desde 72, mas o curioso é que ela iria original ser Miss Moneypenny).
Demora um pouco para ela perguntar o nome dele e este se apresentar da maneira que iria se tornar clássica, Bond. James Bond. (os diálogos dele também são de duplo sentido ainda que não especialmente memoráveis). Eventualmente o casal terá um rápido encontro amoroso e ela escapa viva, o que é mais incrível! Bond é chamado ao escritório e ficamos conhecendo o chefão M (feito por Bernard Lee 1908-81, ilustre e sóbrio ator britânico que é o pai do ator Jonny Lee Miller, de Sombras da Noite).
Ele situa a história e como sempre briga com Bond, neste reclamando de sua pistola Beretta e a substituindo por outra mais moderna (Q, o armeiro do MI6, ainda não aparece em 007 Contra o Satânico Doutor No. Nesse, o papel é exercido pelo Major Boothroyd, interpretado por Peter Burton. No filme seguinte (Moscou contra 007) o ator galês Desmond Llewelyn assume o papel de Boothroyd e já aparece como Q no terceiro filme 007 Contra Goldfinger ficando com o personagem até sua morte pouco antes do lançamento de “007 O Mundo Não é o Bastante” em 1999).
Miss Moneypenny será uma figura obrigatória em toda a série e sempre feita com discrição pela eterna coadjuvante a canadense Lois Maxwell (1917-2007). Sua última aparição será em Na Mira dos Assassinos em 85, saindo com a entrada de Pierce Brosnan. Depois ele vai para a Jamaica, despista um falso chofer, conhece e se alia a um agente americano (Jack Lord, 1920-98 da série Missão Impossível) e se instala num hotel onde fará o seguinte:
1) coloca um fio de cabelo no armário. Pergunto-me para quê? Prova o quê? Enfim...
2) ele é atacado por uma aranha viúva negra venenosa, que na época foi um momento até emocionante porque ao final tinha um alivio cômico com Bond matando-a chineladas.
3) escondido no escuro, ele espera o atentado a sua vida e pela primeira vez na série mata um vilão quase a queima roupa. O felizardo é o feio Anthony Dawson (1916-92), que nada tem a ver com o diretor italiano que usava pseudônimo semelhante. Só depois de mais de uma hora de filme é que finalmente entra Ursula Andress, extremamente bonita e maquiada (ainda mais para quem vai mergulhar em busca de conchas) com sua voz fraquinha (é engraçado que os dois cantam e entoam um trecho de outra canção, Underneath the Mango Tree).
Ela faz Honey Rider e embora não tenha função serve de deleite para os olhos (há um chuveiro para tirar a radioatividade que brincam com a possível nudez sem chegar a mostrar coisa alguma). Ah, eu quando garoto adorava o recurso deles respiraram debaixo d´água por canudinho! Mas dali em diante em sets de gosto duvidoso o filme vai por água a baixo (reparem como esses primeiros filmes de Connery sempre terminam num oceano com barco e mulher). Uma decepção? Não ao contrário, tive até prazer de rever o filme, claro que com olhos mais inocentes. Mas a partir dele ninguém iria acreditar ou apostar que ele iria render uma série tão longa e tão bem-sucedida.
Fim Mais Trivia O Primeiro filme da série iria se chamar James Bond, Agente Secreto desenvolvido pelo produtor Kevin McClory, junto com o autor da série Ian Fleming. Mas este resolveu publicar o livro do filme sem consultar os outros e foi publicada em 1961, como Thunderball.
McClory processou e acabou ganhando. Os produtores do filme acharam melhor mudar o projeto e daí deu a grande confusão com as refilmagens de Thunderball. Mas isso já é outra história. Dr. No tinha a vantagem de ter uma história curta e direta e uma única locação principal. Ian Fleming queria que seu primo Christopher Lee interpretasse Dr. No e realmente teria sido melhor (Lee mais tarde seria Scaramanga em O Homem com a Pistola de Ouro e também o personagem que inspirou Fleming, o Dr. Fu Manchu.). Fleming também convidou o escritor e ator Noel Coward, mas este respondeu com um telegrama onde dizia: "Dr. No? No! No! No!" Também Max Von Sydow recusou para ser Jesus Christ em A Maior História de Todos os Tempos.
Ele seria finalmente um vilão em Nunca mais Outra Vez /Never Say Never Again. Joseph Wiseman foi o único dos vilões iniciais de Bond que não teve sua voz dublada por outro. Este é o único filme de James Bond que apresenta a SPECTRE (SPecial Executive for Counter-intelligence, Terrorism, Revenge and Extortion) sem mostrar seu comandante supremo Ernst Stavro Blofeld. Haviam esquecido do aquário e dos peixes que existiam na casa submarina de Dr. No. Foi tudo encontrado na última hora e inventaram na hora o detalhe do vidro que aumenta. Marguerite LeWars, que faz a fotografa Freelance, era aeromoça quando foi convidada pelo diretor Terence Young. O cunhado dela Reggie Carter fez o chofer bandido.
O produtor Broccoli escolheu Sean Connery quando o viu no filme A Lenda dos Anões Perdidos. Ficou impressionado com sua cena de luta e a mulher dele, Dana Broccoli confirmou seu sex appeal. Mas para motivos de publicidade inventaram que a disputa estava entre seis finalistas. E o escolhido foi um certo modelo de 28 anos, Peter Anthony que não sabia representar e sumiu. A praia onde aparece Ursula é a Laughing Waters Beach no Laughing Water Estate que pertence a Sra Minnie Simpson em Ocho Rios, St. Ann, Jamaica.
A direção do filme foi oferecida antes Guy Hamilton, Guy Green, Ken Hughes e Bryan Forbes, que o recusaram. Phil Karlson foi considerado, mas Terence Young faria três da série. Ian Fleming escreveu a história de Dr. No em 1956 para ser um episódio de sua série de TV nunca produzida chamada James Gunn Secret Agent.
O título de trabalho era Commander Jamaica e The Wound Man. Depois da estreia do filme o Vaticano escreveu comunicado desaprovando o filme sobre o ponto de vista moral. O filme atrasou para estrear nos EUA por causa da crise dos mísseis em Cuba! Merchandising no filme: alfaites Turnbull & Aser tailoring; Pan Am Airlines; Rolex Relógios (James Bond usa um Rolex Submariner); Dom Perignon Champagne; Cerveja Red Stripe; Uísque Black & White, BOAC Airlines e Vodka Smirnoff.
A primeira cena rodada do filme foi aquela no aeroporto em Kingston em que Sean Connery lançar um chapéu na frente da fotografa. A data era 16 de janeiro de 1962. O trabalho do diretor de arte Ken Adam impressionou tanto Stanley Kubrick que ele o contratou para Doutor Fantástico.
A prncípio Ian Fleming não gostava de Sean Connery. Bond era inglês e não escocês, vinha de classe alta e não classe trabalhadora era refinado e educado. Mas depois do filme mudou de ideia e até passou algumas características do ator para o personagem. No Japão, os tradutores do pôster pensaram que era uma comédia e deram o título: "Dr.? No!”. Custaram a descobrir o erro e isto não é uma piada, mas real. Ursula Andress chegou a ganhar o Globo de Ouro de revelação junto com Tippi Hendren e Elke Sommer.
Ursula Andress foi dublada nos diálogos por Nikki Van der Zyl, mas na canção por Diana Coupland. Que também dublou no filme Eunice Gayson (mas a voz desta pode ser ouvida nos trailers). Os produtores Albert R. Broccoli e Harry Saltzman Intriga Internacional de Alfred Hitchcock como modelo para o filme e queriam Cary Grant como Bond.
Depois tentaram James Mason, mas eles não queriam assinar contratos que os obrigassem a fazer continuações. Steve Reeves teria recusado o papel assim como Patrick McGoohan de Danger Man. Teriam sido considerados também Trevor Howard, Rex Harrison, Richard Johnson, William Franklyn, Stanley Baker, Ian Hendry (The Avengers) e Richard Burton.
E até o director John Frankenheimer! E naturalmente Roger Moore, que era preferido de Ian Fleming. David Niven era velho demais para o personagem.