Crítica sobre o filme "Elles":

Rubens Ewald Filho
Elles Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/07/2012

Não é exatamente uma história nova, nem extremamente convincente. O filme tenta nos convencer que uma jornalista da famosa revista Elle fica tão impressionada com a matéria que está escrevendo - sobre duas jovens prostitutas - que se deixa balançar, reavaliando sua vida conjugal de muitos anos com o marido e dois filhos (o adolescente fuma maconha, tem problemas para estudar e gosta de contestar os valores deles, e o mais novo só interessado em videogames).

Supostamente é uma mulher sofisticada (o sintoma: ela ouve o tempo todo músicas clássicas numa rádio especializada e fuma escondido no terraço do bom apartamento onde moram) e já deveria ter se tornado cínica o bastante para não se importar tanto com o acúmulo de funções, profissional e de dona de casa (mas ao fazer um jantar para o patrão do marido, se queima e depois se corta, Freud explica).

Não que as garotas tenham contado nada de especialmente novo (a cena mais forte é quando um cliente urina numa delas) e que elas sejam infelizes. Como foi mostrado em flashbacks preferem a vida que levam, que lhes dá dinheiro e maior liberdade.

Charlotte, vulgo Lola (a revelação e muito charmosa Anais Demoistier que esteve em As Neves de Kilimajaro), ressente sua família, seu apartamento, sua origem de classe operaria ascendente e tem uma visão bastante pratica e lógica de sua vida. A outra, Joanna Kulig faz Alicja (o personagem e a atriz são polonesas alias assim como a diretora).

Vive em Paris e sofre muito na cidade grande, perdida e desprezada. Como prostituta faz sucesso justamente pelo seu ponto fraco, a vulgaridade que agrada aos homens.

Como bom filme Francês, a narrativa é lenta, repleta de pausas, centrada neste dia em que a heroína Anne tem que entregar o artigo e fazer o jantar de luxo. Entre lembranças e goles de vinho (bebe muito e se desespera, chega a dar uns amassos em Alicja, também se masturba) não sabe resolver qualquer problema direito, nem culinário, nem maternal e muito menos matrimonial.

Talvez porque saiba que a vida de qualquer maneira continua, até a próxima matéria.

Juliette Binoche (aos 48 anos, ainda conserva traços de sua beleza e de sua humanidade que a tornam tão especial e particular. Uma curiosidade que nunca descobri: o iMDB afirma que ela tem também origem brasileira!).

Como sempre se entrega ao papel mesmo que ele não mereça (e se torna uma razão forte para assistir ao filme), que por sinal por causa de algumas cenas de sexo menos estilizadas (mas não explícitas) foi proibido para menores nos EUA (onde foi censurado NC-17).

Dois detalhes curiosos no elenco: a mãe de Alicja no filme é feita pela outrora famosa Kristina Janda (que foi a estrela da melhor fase dos trabalhos de Wajda. Nada lhe restou da antiga beleza).

A bela cena em que ela massageia os pés de um velho (meio fora de contexto por sinal) é feita por um senhor chamado Jean-Marie Binoche, fui procurar na Wikipedia que confirma minha suspeita: é o pai dela, de profissão escultor.