Crítica sobre o filme "13 Assassinos":

Rubens Ewald Filho
13 Assassinos Por Rubens Ewald Filho
| Data: 14/07/2012

Não sou especialmente admirador do diretor Miike Takashi, famoso pela grande quantidade de filmes (já fez 88!) que dirige e pelos excessos de violência. Mas por causa desses filmes apressados e de baixo orçamento, ele é cult, principalmente no exterior e com este filme participou do Festival de Veneza (de onde saiu com menção especial) conseguindo uma repercussão excepcional.

É impossível se assistir um filme de Samurai, sem remeter a Kurosawa, seu famoso Os Sete Samurais e depois os filmes da fase final (como Kagemusha, que eram um primor de elegância e beleza, assim como as cenas de batalha inesquecíveis de Ran).

Takashi não chega a tanto, mas demonstra que já que lhe deram a grana ele é muito capaz de realizar um filme mais que competente, por vezes empolgante ou muito violento. Mas de primeira linha (a versão internacional tem 20 minutos a menos do que a japonesa que tinha ainda uma longa sequência passada num bordel pouco antes da batalha final). Foi também premiado pela Academia japonesa como iluminação, foto, som, direção de arte (e teve mais seis indicações inclusive como melhor filme).

Além disso, 13 assassinos é uma refilmagem de filme homônimo (no original japonês) de 1963, dirigido por Eichi Kudo que até onde sei não passou por aqui. A história resulta um pouco confusa simplesmente porque é difícil identificar os personagens ainda mais paramentados de roupas de época. Mas tenha paciência que com o transcorrer da história vai tudo se explicando e garanto que não há um momento de sossego ou tédio.

Na primavera de 1844 no fim de uma era, um samurai influente comete seppuku (ou seja, aqui conhecido como Harakiri, um suicídio ritualista, numa cena que não tem como não lembrar o celebre Harakiri de Masaki Kobayashi) como protesto conta o sadismo sem limites do irmão mais novo do Shogun (ou seja, o Senhor que manda em tudo).

É Lord Naritsugu (vivido pelo roqueiro Goro Inagaki com toda necessária frieza). O pior é que ele nem é castigado e os outros reconhecem que essa tolerância compromete todo o país. Fingindo aceitar a ordem do Shogun, Doi secretamente contrata o samurai Shimada (Koji Yakusho, de A Enguia) para assassinar Naritsugu.

Este reúne 11 outros samurais incluindo seu sobrinho Shinrokuro (Takayuki Yamada), o guerreiro Kuranaga (Hiroki Matukata) e o espadachim Hirayama (Tsuyoshi Ihara, Cartas de Iwo Jima ). Também quem se junta a eles é um caçador meio louco chamado Koyata (Yosuke Iseya) - neste caso reverencia o Toshiro Mifune de Sete Samurais.

Assim os 13 assassinos planejam matar Naritsugu na sua viagem para a capital Edo (Kyoto). O problema é que ele tem muitos guarda-costas liderados por Hanbei, velho rival de Shinzaemon que acha o comportamento de Noritsugu absurdo, mas tem que servi-lo. Assim serão 200 samurais para protegê-lo resultando numa enorme batalha.

É verdade que no meio o filme se arrasta um pouco. Mas a melhor coisa que Takashi faz é não satirizar o gênero (como seu passado iconoclasta indicaria), mas o leva a sério e consegue um resultado muito eficiente. Não são batalhas à moda antiga de David Lean, mas com a câmera na mão, no ardor da contenda, muito criativas e surpreendentes (já com uso de explosivos).

Não é uma desconstrução do gênero, mas uma releitura empolgante, em particular nos últimos 45 minutos. Sem escapar dos conceitos de honra, lealdade, tão caros ao gênero e aos japoneses.

Uma pena que este tipo de filme esteja um pouco fora de moda, mas realmente quem gostava do velho e genial cinema japonês que passava na Liberdade vai ter uma boa surpresa. Procure assistir este 13 Assassinos!