Crítica sobre o filme "Espetacular Homem-Aranha, O":

Rubens Ewald Filho
Espetacular Homem-Aranha, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 05/07/2012

Havia uma visível má vontade em relação a este projeto e a decisão da Sony em fazer uma refilmagem tão próxima da primeira versão (eles hoje usam um novo nome, que seria reboot, algo como retomada), que na verdade são muito recentes (a trilogia anterior data de 2002/04/07) e ainda por cima foram realizadas por um admirador confesso de quadrinhos Sam Raimi, que os realizou com competência e tem a simpatia dos fãs do personagem. Ou seja, não há na decisão nada mais do que um interesse comercial e não artístico.

Não que seja uma novidade. A Warner fez isso com o Batman Cavaleiro das Trevas e acertou em cheio (por outro lado, tentou a mesma coisa com Superman e errou tão feio que hoje preferem esquecer a tentativa). Também sofreu oposição à escolha de um diretor sem currículo que tinha realizado apenas uma simpática e criativa comédia ainda que já esquecida (500 Dias com Ela, com Joseph Gordon Levitt e Zooey Deschanel). Também parece um exagero batizá-lo ainda que seja para diferenciá-lo de Espetacular em vez de Amazing (Espantoso).

Felizmente para o estúdio as escolhas se revelaram certas. Quem quer que tenha feito a seleção do elenco foi muito feliz, começando por um risco bem grande. Em vez do baixinho, ainda que simpático, Tobey MaGuire, temos em seu lugar um rapaz longilíneo e muito mais velho do que o personagem adolescente: Andrew Garfield que já se revelou um bom ator em Dr. Parnassus, A Rede Social (onde fez o brasileiro), Não me Abandone Jamais, Leões e Cordeiros. E também foi indicado ao Tony por uma excelente participação como o filho de A morte do Caixeiro Viajante.

Embora tenha já certa idade (nasceu em 1983), consegue convencer totalmente como um teen confuso e atrapalhado, vítima de bullies e traumatizado pela morte misteriosa dos pais (é assim que começa o filme) e que foi criado pelos tios (outra boa escolha foi a dupla Sally Field e Martin Sheen, ambos têm uma persona tão conhecida, são queridos pelo público que não é preciso explicar muito, só parecerem que já sabemos de que se trata de gente boa.

Na outra versão, a tia por exemplo era uma senhora de cabelos brancos, mais para avó). Talvez o principal defeito do Homem-Aranha original (fora a presença do insuportável James Franco e de vilões irregulares e excessivos), tenha sido a ênfase em cima do romance do herói com a namoradinha que desejava ser atriz, Mary Jane Watson. Aqui ela foi substituída por outro personagem existente nos quadrinhos Gwen Stacy (feita por Emma Stone. Aliás, como todo mundo sabe o casal de atores centrais continua namorando. Gwen foi feita no terceiro filme da série por Bryce Dallas Howard).

Como sempre, confesso não sou especialista em quadrinhos (vide a matéria posterior), mas estes me dizem que o filme não é especialmente fiel (o criador Stan Lee aparece como sempre, mas desta vez numa cena num laboratório onde não consegue ouvir a animada luta que está sucedendo ao seu redor). De qualquer forma embarquei completamente na interpretação de Peter Parker feita por Garfield e na direção competente de Webb que dá uma versão ligeiramente diferente dos fatos e da contaminação do herói, quando ele encontra antigos documentos numa maleta, abrindo as portas para a empresa Oscorp e a figura do cientista que foi sócio do pai de Peter, Dr. Curt, que não é propriamente um bandido, mas que irá se transformar num terrível monstro, The Lizard, o Lagarto, que naturalmente vai querer destruir Nova York. O personagem é feito pelo inglês Rhys Ifans, que estamos acostumados a ver em papéis de comédia. Menos convincente me pareceu a relutância do chefe de policial (Denis Leary) em perceber que o vigilante Homem-Aranha é do bem (mas isso provoca mais conflitos porque ele é o pai de Gwen). Mas tudo é compensado pela constatação de que em apenas cinco anos a qualidade dos efeitos especiais teve uma visível evolução.

Se não espetacular, o novo Homem-Aranha chega perto. O romance é conduzido com discrição, guardando munição para as próximas aventuras. Ou seja, uma boa surpresa, um promissor recomeço.