Crítica sobre o filme "Febre do Rato, A":

Rubens Ewald Filho
Febre do Rato, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/06/2012

Polêmico, criativo, provocador, o diretor Claudio de Assis (Amarelo Manga, Baixio das Bestas) se supera neste seu novo filme que ganhou o prêmio de direção no recente Festival Cine Ceará e oito prêmios no Festival de Paulínia do ano passado.

Num momento em que o cinema em geral, e o brasileiro em particular mergulha em velhas fórmulas e um conformismo moralista, ele ousa dar uma virada fazendo um painel muito pessoal do que seria a vida na cidade do Recife, quando o protagonista que insiste em ser poeta (Irandhyr, que já é dos mais premiados do atual cinema brasileiro).

O título é uma expressão popular típica do nordeste brasileiro, que significa aquele que está fora de controle.

É o caso de Zizo, poeta inconformado e anarquista, que assim denomina seu tabloide, publicado às próprias custas. E sua vida conturbada vai se misturando a de um grupo de amigos e com a de Eneida, por quem se apaixona (Nanda).

São várias histórias que se cruzam (em particular a de Matheus que mantém um complicado romance não muito assumido com um travesti) e que servem também para ilustrar uma piada que consta do filme.

Dizem que um sujeito morreu e foi para o céu que achou muito chato, quis conhecer o inferno, mas o elevador parou antes num lugar onde todo mundo estava transando numa enorme orgia. Entusiasmado quis ficar ali, mas logo teve a explicação: o inferno é mais embaixo, aqui é o Recife.

Isso já de uma ideia muito clara do que é este filme libertário, anárquico, brilhante, que funciona porque Claudio (sempre auxiliado pela fotografia do excepcional de Walter Carvalho) é um grande realizador.

As cenas tem carga dramática, às vezes chegam ao limite do escândalo, mas são muito bem enquadradas, encenadas, vê-se que por trás tem as mãos de um artista. A ponto de entusiasmar.

Aliás, uma palavra ao corajoso elenco que mergulhou no projeto com toda bravura. Tive grande impacto quando o assisti e pretendo vê-lo de novo. Que fique claro que não é para qualquer público. Só para os que não se chocam facilmente.