Crítica sobre o filme "E Aí... Comeu?":

Rubens Ewald Filho
E Aí... Comeu? Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/06/2012

Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio e a atriz Alcione Mazzeo, tem se firmado com roteirista e ator, na televisão, no palco e no cinema, onde foram sucessos seus filmes Muita Calma nesta Hora e Cilada.com. Este último tinha momentos engraçados, outros nem tanto (a cena do orgasmo era fora de controle), mas este aqui é sem dúvida um enorme passo na carreira de todos em particular do diretor Joffily (sobrinho do outro diretor José Joffily), ele fez antes as comédias Odiquê (que era meio experimental) e Muita Calma nesta Hora.

A grande sacada foi procurar adaptar uma peça homônima de sucesso de Marcelo Rubens Paiva (que também fez o roteiro), que além do título muito comercial e irresistível dá uma visão muita autêntica do que os homens pensam das mulheres de hoje em dia. Inclusive com uma liberdade de linguagem (até porque é difícil dizer hoje em dia o que é palavrão) que a princípio pode assustar um pouco. Na pré-estreia que assisti nos primeiros 10 minutos o público, em particular o feminino, ficou meio assustado e só depois quando aparece Marcos Palmeira para dar a aula de sexo oral é que foram se soltando e rindo. No que prenuncia ser um grande sucesso de bilheteria.

O bom do filme é não se contentar em ser uma mera pornô chanchada à moda de Os Paqueras e todos seus descendentes. Ele mira mais longe e consegue fazer observações pertinentes sobre a guerra dos sexos e a dificuldade dos relacionamentos. Tem a sorte de ter um elenco de primeira linha. Marcos Palmeira amadureceu, mas conserva uma qualidade essencial, é muito simpático na tela, é um leading actor, um protagonista por excelência. Ele faz um jornalista casado com filhos, mas a esposa (a sempre excelente Dira Paes) mantém uma vida paralela, sempre ocupada, sempre saindo sozinha (ele nem desconfia que é por causa de seu hábito de ir todas as noites encontrar com os amigos num bar do centro da cidade, caindo em ocasionais orgias). Seus amigos enfrentam crises. Bruno Mazzeo acabou de se separar da esposa a quem ainda ama (o papel é da bela e charmosa Tainá Muller) e não consegue se interessar por outras. E Emilio Orciollo Netto, ator paulista que está fazendo bela carreira no Rio, tem família rica e se esforça em escrever um romance que nunca termina enquanto paquera uma prostituta pela Internet.

É fácil simpatizar com os três e se divertir com suas filosofadas eróticas, às vezes pueris, mas sempre engraçadas. Mas não é só isso, o diretor conseguiu pontilhar o filme de imagens do Rio de Janeiro, mesmo que filmando de madrugada sempre preocupado em mostrar a cidade pelas janelas abertas.

Cilada, com era, por exemplo, tecnicamente um pouco tosco, não elaborado. Isso já não sucede mais aqui, onde além da eficiente fotografia, trilha musical e mesmo direção de arte há mais equilíbrio entre as cenas de humor e as de relacionamento (por vezes o filme me lembrou de Quinteto Irreverente), com aparições muito divertidas do Seu Jorge (inesperadamente como um garçom malandro), José de Abreu e Murilo Benicio. O filme é um upgrade para a atual comédia popular brasileira.