Nunca cheguei a assistir nenhum episódio da série Dark Shadows (embora tenham sido exibidos no Brasil pela Bandeirantes), nem dos longas que foram extraídos dela (embora tivessem a curiosidade da presença em seu canto de cisne da estrela Joan Bennett). Apenas ouvi falar que ela era cult, talvez por ser muito pobre e com cenografia ridícula. Era basicamente uma telenovela e durou entre 1966 a 71, trazendo como protagonista Barnabas Collins, o ator Jonathan Frid, que morreu com 87 anos, há algumas semanas, sem poder ver os cameos dele e outros atores originais da série na sequência da festa onde canta Alice Coooper (descrito por Johnny Depp, ou seja, Barnabas no filme como a mulher mais feia que já viu na vida!).
Dark Shadows não foi nada bem nos Estados Unidos (custou 150 milhões de dólares e não passou dos 73 milhões de renda). O filme tem algumas poucas sacadas boas, mas está longe de ser uma comédia. Também não é o filme que estava se esperando para dar finalmente um Oscar de diretor para Tim Burton, que já faz tempo que merece. A melhor coisa, e nisso não há novidade, é a presença de Johnny Depp, que está discreto, bem maquiado, sinistro, mas sem excessos. E ninguém diria que já tem 49 anos.
Considerando que Depp tem que fazer um papel de vampiro assassino ingrato e que mata todos os que o salvaram porque está há quase dois séculos morrendo de sede de sangue! E não para por aí, ele não faz exatamente uma figura doce e adorável como Edward Mãos de Tesoura. Mata até alguns (inclusive a mulher de Burton, Helena Bonham Carter, que faz uma esquisita psiquiatra). E não chega a ter grandes poderes a não ser a vida eterna e a capacidade de hipnotizar humanos. Mas o tempo todo eu senti o medo que o filme tem de virar uma variação da Família Monstro ou Família Addams. O que é um engano. Porque fica num meio termo perigoso, não é bem terror, não é comédia, nem melodrama romântico (embora tenha momentos de romance). Acaba sendo apenas mais uma obra da fantasia de Burton, que reuniu sua equipe (eficiente) de confiança como o compositor Danny Elfman, o produtor Richard Zanuck, a excelente figurinista Coleen Atwood.
A única pessoa que está realmente bem no filme, aliás, tem o melhor papel é a francesa Eva Green, que não tinha dado certo desde James Bond. Ela tem o papel chave da bruxa maligna que vive na Costa do Maine e é apaixonada por Barnabas, mas quando recusada consegue armar a vingança diabólica (não se sabe por que tem tanto poder!). De qualquer forma, além de transformar Barnabas em vampiro, faz com que a mulher que ele ama se mate e o enterra vivo num caixão todo acorrentado. Quando este retorna, Eva está muito bem de vida, já que tomou toda a fortuna da família de Barnabas mas mesmo assim continua louca por ele (e o ponto alto do filme é a sequência dos dois fazendo sexo literalmente subindo pelas paredes). Quando Barnabas retorna já é nos anos 70 escolhido porque era a época em que todos se vestiam e se comportavam de maneira mais bizarra (o que permite que ele use um linguajar antiquado, se assuste um pouco com as novidades).
Mas nem esse recurso é aproveitado direito pelo roteiro, poderiam ter muito mais piadas com os contrastes de costumes. Assim como toda família é muito mal explorada. Michelle Pfeiffer faz a matriarca Elizabeth que aceita Barnabas de volta. Michelle continua uma bela mulher, mas não lhe dão nada especial para fazer, aliás, está todo mundo perdido. Como a adolescente Carolyn, que esconde um segredo, mas é o pior trabalho de Chloe Grace Moretz, que nem ganha quase closes.
Jonny Lee Miller (filho de Bernard Lee o M de Bond e ex marido de Angelina Jolie), faz o irmão de Elizabeth, Roger que parece ser vigarista, mas logo é tirado de cena. O menino David (Gulliver McGrath) é ajudado pelo fantasma da mãe dele, mas é outra falha do filme já que mal entendemos sua presença ou ação assim como a figura do outro fantasma que acompanha o interesse romântico, que supostamente seria reencarnação de outra mulher mal identificada.
Confuso? Há regras mal delineadas do que um vampiro pode ou não fazer (a luz do dia não o perturba, mas do sol sim, não se vê no espelho, mas não tem problemas com água). E nada a ver com a saga Crepúsculo. Diante de tudo isso duvido que vá ter a continuação para qual já deixaram a porta aberta.