Crítica sobre o filme "Amargo Regresso":

Rubens Ewald Filho
Amargo Regresso Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/04/2012

Nunca mais tinha assistido a este filme depois de sua estreia. Mas o tempo não me fez mudar de ideia. Ainda é um resultado muito claro de sua época e ficou datado. Naquele momento era muito ousado e corajoso ousar criticar a Guerra do Vietnã, porque fazia pensar que isso era antipatriótico e antiamericano (não muito diferente do que sucede ainda hoje com novas guerras em que os americanos se envolveram, por razões ainda menos justificadas).

Então este projeto teve muita importância, ajudando em coisas mais simples (por exemplo, não existiam leis que facilitam acesso aos lugares para os deficientes físicos) até mais complexas (na época houve muito escândalo porque o casal tem uma cena de cama – por sinal, muito no escuro e com uma dublê de corpo para Jane – onde se mostra a primeira cena de sexo oral feminino. Que era a forma de um paralítico satisfazer a mulher. Um assunto que havia sido cuidadosamente ignorado por todos os outros filmes sobre o assunto até então.

Este foi um roteiro original que Jane Fonda fez desenvolver por Nancy Dowd, que ficou com o crédito de argumento quando o script foi rejeitado, deixando apenas a ideia central. Uma história de amor durante a Guerra. Quem o escreveu foi Waldo Salt (Serpico, Midnight Cowboy) e Robert C. Jones (Deu a Louca no Mundo, Adivinhe Quem vem para Jantar), fixando-se mais nos problemas trazidos pela Guerra, principalmente para os veteranos.

Foi muito comentado também na época como o casal se conheceu (melhor dizendo se reencontra, mas isso só será revelado depois), que é uma variante da velha formula do “meeting cute”, o encontro engraçadinho do casal que irá se apaixonar, aqui ele derruba a sacolinha de urina que se a molha! Sem dúvida uma cena original e reveladora.

A fotografia é do aclamado Haskel Wexller, famoso por usar iluminação natural, e dar um toque realista às cenas. Como já demonstrei muitas vezes, não gosto de não enxergar nada, nem aprecio o uso de lentes de longo alcance, que era moda na época. Isso faz com que a gente nem consiga identificar direito nenhum dos veteranos no hospital (muitos deles veteranos de verdade e dizendo textos improvisado por eles mesmo, inclusive na cena inicial) nem terem uma personalidade própria. Fica difícil mesmo entender porque o trio central foi tão premiado por todos.

Jane Fonda prejudicada por um cabelo ruim (em dois tempos, e mesmo com a mudança) não tem grandes cenas e não há por que ter ganho um segundo Oscar de atriz. Bruce Dern como é seu hábito super-representa no que é um papel realmente difícil do marido traído tanto pela esposa quanto por sua pátria, que o mandou para uma Guerra que não era como sonhava. E onde o heroísmo tomava formas hediondas (como os soldados de seu pelotão cortarem as cabeças dos mortos para os exibirem).

Somente Jon Voight traz alguma humanidade a seu personagem mais positivo, que ilustra melhor o esforço do cadeirante, sua revolta inicial (quando briga com os médicos e com a vida) até as tentativas de aceitação fazendo esforços e tentando ter uma vida normal. Seu personagem tem elementos de Ron Kovic, que depois iria inspirar Nascido em Quatro de Julho.

Fora isso, o filme resulta um pouco caótico e inconcluso (dizem que a canção final teria uma letra significativa, mas não é possível se entendê-la – não há legendas e que é de Tim Buckley que se matou justamente aos 28 anos, em 1975 e era o ídolo do diretor Hal Ashb. Hoje já sabemos das histórias de Ashby, que era completamente drogado e bastante irresponsável, o que era compensado por ser também talentoso (e também ótimo montador). Tem também um making of retrospectivo (Coming Back Home). O filme ganhou três Oscars: Ator, Atriz e Roteiro Original. Mas foi ainda indicado para outros: coadjuvantes Bruce Dern (que é pai de Laura Dern) e Penelope Milford (que não foi muito adiante), direção, montagem e filme. Jon Voight foi melhor ator em Cannes e novamente o casal ganhou o Globo de Ouro (tiveram indicações de roteiro, direção, filme e coadj Dern). O casal também ganhou Críticos de Los Angeles, Voight críticos de Nova York e o roteiro foi escolhido pelo Sindicato dos Roteiristas.

Reza a lenda que o papel central foi antes oferecido a Sylvester Stallone, Jack Nicholson e Al Pacino que o recusaram. E Meryl Streep faria o papel de Vi, mas não pode porque estava fazendo peça (mas não faz muito sentido porque Jane era coprodutora!). John Schlesinger ia ser o diretor (quando o roteiro de Nancy), mas foi afastado (honrosamente teria dito que o filme deveria ser feito por um diretor americano por causa da temática).

A sensação que eu tenho ao ver o filme é que o assunto poderia ficar melodramático e com medo disso acabaram realizando um filme distanciado que na época falava mais próximo aos norte-americanos e hoje envelheceu mal. Jon Voight ganhou mais porque tinham esquecido dele por Perdidos na Noite (Midnight Cowboy). O prêmio para Jane também poderia ter sido por outros trabalhos. Teria preferido qualquer uma das outras alternativas: Ingrid Bergman por Sonata de Outono, Ellen Burstyn por Tudo bem no ano que vem, Jill Clayburgh por Uma Mulher Descasada e Geraldine Page por Interiores. Dessas só Jill nunca ganhou porque um câncer estragou sua carreira.