Crítica sobre o filme "Mensageiro, O":

Rubens Ewald Filho
Mensageiro, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/04/2012

Não confundir com outros filmes homônimos, tem aquele horrível com Kevin Costner (que deveria ser O Carteiro), tem um policial de 2009 com Woody Harrelson. Mas este é O Mensageiro mais famoso e mais raro, porque é uma produção inglesa independente e que na época ganhou a Palma de Ouro de Cannes e outros prêmios, o Bafta de roteiro(do grande dramaturgo Harold Pinter), revelação (o garoto Dominic Guard, que não foi adiante), coadjuvantes (Edward Fox e Margaret Leighton).

Foi indicado ao Globo de Ouro de filme estrangeiro, Oscar de coadjuvante (Margaret Leighton), Baftas de atriz (Julie), direção de arte, fotografia, figurino, direção, filme, som e ator coadj (Michael Gough).

O diretor Joseph Losey é outro dos grandes que esta esquecido no momento e que merece também um flashback:

Losey, Joseph (1909-1984)

O mais ilustre diretor que foi vítima da Lista Negra de Hollywood, provocada pelo McCarthismo e que melhor deu a volta por cima, criando para si um estilo barroco e rebuscado, bem ao gosto dos europeus. Seu melhor trabalho, porém, foi quando obrigado a se refugiar na Inglaterra realizou filmes pequenos (em geral com o ator Stanley Baker, depois Dirk Bogarde), quase sempre pessimistas.

A obra-prima é O Criado, com roteiro do dramaturgo Harold Pinter (sempre obscuro e elíptico, mas que não conseguiu esconder as entrelinhas homossexuais e a flagrante disputa pelo poder). Mas foi com o lírico O Mensageiro que ele ganhou a Palma de Ouro em Cannes e finalmente uma carta de reabilitação (entretanto, ele nunca retornou profissionalmente à sua terra natal).

Sua obra parece estar sempre preocupada no confronto entre o bem e o mal, e embora Losey afirmasse estar do lado do bem, com frequência era o mal que se saia vitorioso. Ex-estudante de medicina e literatura em Harvard, começou a escrever para o teatro em 1930, envolvendo-se na montagem de peças esquerdistas e trabalhando até em Moscou. Teria estudado cinema inclusive com o grande Eisenstein, antes de voltar para a América para dirigir teatro e filmes educacionais para a Rockefeller Foundation (assim fez dezenas de fitas industriais).

Seu primeiro curta comercial foi uma fita com marionetes mas seu quarto, A Gun in his Hand (feito para a série da MGM, O Crime não Compensa) lhe deu um Oscar na categoria. Isso lhe deu fôlego para estrear no longa com um trabalho polêmico contra a guerra e os preconceitos raciais (O Menino dos Cabelos Verdes).

Foi a partir de 1951, colocado na lista negra e proibido de trabalhar na América. Mudou-se para a Inglaterra, onde trabalhou sob pseudônimo, sobrevivendo com comerciais de TV, até que o ator mais popular da Inglaterra, Dirk Bogarde, acreditou nele e aceitou trabalhar em suas fitas. Apoiado pela crítica francesa, seu retorno com força total na década de 60 culminou com a Palma de Ouro em Cannes para O Mensageiro.

Seu estilo barroco e rebuscado é o reflexo de um autor sério e consciente, mas menos político do que se julga. Este estilo lhe causou problemas com os produtores de Cerimônia Secreta. Quando exibido na TV americana, ele foi remontado e um ridículo prólogo e epílogo foram rodados às pressas, para tornar o filme menos difícil para o público.

Trabalhou com roteiristas de primeira, como Harold Pinter (aqui mas também em O Criado e Estranho Acidente) e Tennessee Williams (num interessante fracasso, O Homem que Veio de Longe).

Mas este não é um típico filme de Losey, que geralmente era menos romântico e menos bem comportado. É sempre a história de um velho (Michael Redgrave) que recorda 50 anos depois quando era jovem de 13 anos e acabou servindo de intermediário, leva e traz literalmente entre um casal que se amava, mas que não podia ficar junto por causa das diferenças de classe.

É uma adaptação do livro semiautobiográfico de 1953 de LP Hartley (1895-1972), tambem autor de O Assalariado.

Muito ajudado pelo roteiro de Pinter, depois vencedor até do Prêmio Nobel, no que resultou no filme (ainda que com visual bem da época), num filme sobre memória, rito de passagem (de adolescente para adulto), bastante elegante e cheio de clima.

Mas é principalmente (mais outra) ao sistema de castas e classes da sociedade inglesa observada por um certo Leo Colston (Dominic Guard), filha de uma viúva empobrecida que vai passar as férias de verão como convidado de uma família aristocrática (Gough e Leighton) em sua mansão em Norfork Brandon Hall. Lá ele fica amigo de Lady Marian Trimingham (Julie Christie) que ama outro, mas que não pode ficar com ele por causa de seu pobre e considerado vulgar (Alan Bates).

Leo entregava as mensagens e agora ficará sabendo de um segredo de família. No fim, o filme acaba fazendo perguntas ingênuas: "Pode um caso desses permanecer secreto? E quando acaba a inocência?"