Johnny Depp tem uma irresistível atração por tudo que é excessivo e delirante, principalmente quando lida com alguma forma de droga. Demonstrou isso faz tempo com um filme que eu absolutamente detesto chamado Medo e Delírio (Fear and Loathing in Las Vegas, 1998 de Terry Gilliam), que é a autobiografia do escritor Hunter S. Thompson 1937-2005, por sinal, o mesmo da história que deu origem a este filme aqui.
O anterior se passava no começo dos anos 70, quando o jornalista Hunter ia para Las Vegas cobrir uma corrida automobilística, mas se une a um desconhecido que lhe fornece todo tipo de drogas, no que se converte numa “viagem” de drogas de todos os tipos.
Uma abominável adaptação de um livro cult, que o diretor Gilliam, assumiu na última hora. Mesmo assim, é culpado por este filme que não condena a droga, mas certamente mostra seus efeitos correlatos (eles vomitam o filme todo, destroem o apartamento do hotel, etc).
O resultado é irritante e insuportável, apesar do elenco famoso em pontas. Desnecessário dizer que o filme tem seus admiradores, mas não do tipo que paga ingresso de cinema. Gasta seu dinheiro em outras drogas.
Agora este novo projeto que teve 13 produtores (incluindo Depp) custou 45 milhões de dólares e não rendeu mais do que 13, já que o público percebe perfeitamente o que lhe espera. Aliás, nosso título nacional já é a melhor recomendação para afastar espectadores sensatos.
Depp faz o jornalista bêbado, Paul Kemp (logicamente inspirado em Thompson, seria autobiográfica a história, aliás, o autor sintomaticamente se suicidou em 2005), que vai trabalhar em San Juan de Porto Rico, num jornaleco, onde fica encarregado de horóscopo e matérias turísticas.
Ele divide aposentos com Sala, um outro repórter alcoólatra e é contratado por Sanderson, um homem de negócios rico que precisa de ajuda para reunir investidores para comprar uma ilha onde quer construir um resort. Ele tem uma namorada atraente que parece flertar com Paul, o que pode ser naturalmente perigoso.
Para um projeto assim tão pouco comercial (apesar de ter sido rodado em paisagens tropicais fotogênicas, da autêntica Porto Rico) resolveram chamar para a direção o britânico Bruce Robinson, que foi ator (A História de Adele H de Truffaut, mas é mais lembrado como realizador de apenas três filmes, o suspense Jennifer 8, a comédia Como Fazer Carreira em Publicidade e o cult Os Desajustados, que não é famoso no Brasil, mas muito respeitado e querido na Inglaterra com o nome de Withnail and I (78), com Richard E. Grant e Paul McGann.
Por que desenterra-lo? Só coisa mesmo de Mr. Depp (Benicio del Toro pensou em dirigir o filme em determinado momento). Na verdade, não há muito o que culpar o realizador, que consegui mesmo dar um certo ritmo, fazer planos bonitos, retratar bem o final dos anos 50/começo dos 60 e segurar Mr. Depp (que está muito mais controlado do que de costume).
O filme é certamente muito menos insuportável do que o anterior. Tem gente que acha mesmo que é uma espécie de prequel, prólogo, mostrando como um sujeito legal iria se transformar naquele monstro.
Não chega a aborrecer, mas apenas não é minha ideia de arte, nem de entretenimento.