É preciso entender que até aquele momento não se faziam filmes sobre tortura, nem se mostrava em detalhes o processo de interrogatório e humilhação que hoje se tornou lugar comum, quando até mesmo o governo americano aceita e justifica a tortura como arma de confissão.
Então, ver o filme foi um choque muito grande, ainda mais porque o diretor Gavras procurou manter um tom muito realista (rodando na própria França, em Pas de Calais) usando foto com o mínimo de luz natural (do grande fotógrafo de Godard, Raoul Coutard) e com o próprio Montand deixando-se emagrecer e se enfear.
Não era mais um galã, mas um verdadeiro ator. É importante também deixar claro que não é um filme anticomunista e mesmo até o fim da vida, o casal ficou reticente e crítico, mas não renegou suas ideias. Apenas passou também a combater os excessos e abusos de qualquer governo que se torna totalitário e absoluto.
Por isso ainda é impressionante o processo e o circo absurdo que se monta contra eles (e certamente deve ter havido milhares de outros parecidos, que não tiveram a sorte de virar filme). E ainda acontece hoje em dia pelo mundo afora, isso quando se dão ao trabalho de abrir processo e já não julgam e matam a priori.
O tema não perdeu sua atualidade embora o comunismo tenha (parcialmente) caído porque esse tipo de comportamento pode vestir qualquer bandeira. Não se esperava de Montand um trabalho tão completo, tão forte, certamente o melhor de sua carreira. E que ele procurou não repetir (seu último filme IP5 dizem ter contribuído para sua morte de enfarto um pouco prematura porque foi uma rodagem difícil e extenuante).
De qualquer forma, esse caso foi chamado de "Julgamento Slansky", quando London e outros 13 tchecos (11 deles eram judeus, o que demonstra já seu rancor racista) foram condenados por traição e espionagem.
O filme não é simplista, ao contrário, tenta ser justo sem deixar de ser humano e sincero, não é apenas um thriller de ação como foi Z. Por isso ainda merece ser visto hoje em dia, com todo respeito.
Não teve muitos prêmios por razões óbvias, mas foi indicado ao Globo e ao BAFTA de filme estrangeiro. Nada para Montand.