Não confundir com o Moulin Rouge, de Baz Luhrman, 2001, com Nicole Kidman e Ewan McGregor. Este filme ainda mais clássico e até agora inédito em Home Video, conta a história do famoso cabaré parisiense, onde nasceu a dança chamada can-can e onde trabalhava o famoso artista Toulouse Lautrec.
Esta versão foi realizada por John Huston e premiada com os Oscars de melhor direção de arte e figurino. Mas que também foi indicado para melhor filme, direção, ator para José Ferrer, atriz coadjuvante, para a francesa Colette Marchand e montagem (mas que na verdade deveria ter ganhado era o prÊmio de fotografia que é esplêndida e inovadora).
Impressiona à primeira vista é o trabalho do porto-riquenho Ferrer, que já tinha ganhado o Oscar por Cyrano de Bergerac (tio por casamento de George Clooney), que interpreta o artista Toulouse Lautrec como anão (na verdade, ele pertencia a uma família aristocrática francesa e sofreu um acidente de cavalo que o deixou deformado, impedindo o crescimento das pernas).
Ferrer teve que fazer o personagem sempre de joelhos, numa época em que não havia ainda os efeitos digitais para ajudar. É uma presença formidável numa fita que seria convencional ao mostrar o romance frustrado que ele tem uma garota infeliz, (a hoje esquecida, a atriz francesa Colette Marchand, ainda viva, nasceu em 1925 e que só fez outros quatro filmes. Chegou a levar Globo de Ouro de revelação).
A intenção de Huston foi outra, pela primeira vez ele procurou transpor para a tela o estilo, a atmosfera, o tipo de iluminação da obra de um pintor. Assim tudo é mostrado no filme com o mesmo visual do que nos desenhos e pinturas de Lautrec. Reparece só na sequência de apresentação do cabaré do Moulin Rouge, toda composta de travellings, mostrando não apenas a suntuosa decoração do fim do século XIX, mas também a reação da plateia conversando até chegar à figura de Lautrec.
O primeiro número de dança, onde se mostra o can-can é simplesmente espetacular e não se perde o clima nem mesmo quando entra Zsa Zsa Gabor interpretando a canção tema — a voz é de Muriel Smith — que por sinal fez sucesso no Brasil em versão com o recém-falecido Jorge Goulart (Zsa Zsa também está faz tempo a beira da morte, nas mãos de um marido vigarista).
Não se esqueçam de que era ainda o começo dos puritanos anos 50, onde o código de censura proibia a ousadia de mostrar prostitutas e cafetões, a fauna da vida noturna que habitava o lugar. Huston conseguiu burlar a censura e fazer junto com o fotógrafo Oswald Morris uma das fitas mais bonitas do tecnicolor e da história do cinema. Ganhou Leão de Prata em Veneza.