Não há dúvida que é um filme bem feito, bem realizado, que conta uma história pouco conhecida (embora tenha passado a infância acompanhando os fatos pelas revistas Cruzeiro e Manchete da época que cobriram muito o assunto) e realizado com toda qualidade. Mas porque não me empolgo com o resultado? Simplesmente porque ele foge da emoção.
Conta-se uma história real de três irmãos que largam tudo (o que também é mal explicado) para irem viver no interior do Brasil junto com os índios, trabalhando para evitar conflitos sangrentos e também integrá-los na sociedade moderna (o que serviria para destruir sua civilização e como descobrem logo no começo quando morrem muitos vítimas de uma gripe comum). Não ficamos sabendo por que esse amor pelos índios, nem os que eles têm de tão admiráveis. Parece que acham que a gente já pensa isso e pronto.
Todo seu modo de vida é apresentado de forma superficial. Fica uma história de paraíso terrestre enquanto cuidadosamente se foge da emoção. Dois deles têm romances com nativas índias, um assunto que é tratado com rapidez (um desses casos provocou escândalo). Não é desenvolvido como se fosse uma trama romântica (o que seria uma forma de se interessar mais pela história), apenas fica descartado e pronto.
O segundo romance é quase mudo, feito por troca de olhares. Há uma sequência de massacre (no conflito com os que desejam a terra para outros fins) mas quando ele está começando discretamente há um fade out (outro momento que lembra Apocalipse Now também não vai longe). E chega-se ao cúmulo de deixar um dos protagonistas morrer fora de cena (sua decadência ou crise nem é desenvolvida, outra coisa descartada e que poderia acrescentar ao interesse dramático).
Também o conflito político às vezes é colocado (políticos corruptos, militares coniventes), mas miraculosamente resolvidos ou dispensados. Nada é aprofundado. Também não gosto da mania atual dos diretores de fotografia de usarem pouca luz (a que seria a cena mais tocante o abraço dos dois irmãos brigados é mostrado de perfil e no escuro!).
Por tudo isso Xingu é um filme frio, correto, que se sobressai especialmente num ano que por enquanto ainda não teve pontos altos. Acho a narrativa um pouco confusa, mas é compreensível pelo tamanho do projeto ao sintetizar tantos anos de História. Mas continuo a não conhecer direito os Villas Boas e a figura mais consistente acaba sendo de Felipe Camargo (certamente o ponto alto de sua carreira) que se encontra e dá vida ao personagem de Orlando Villa Boas. É verdade, que a direção evita o folclore fácil, o estilo Jean Mazon e faz tudo com muita dignidade. Sóbrio até demais.