Crítica sobre o filme "Deu a Louca no Mundo":

Rubens Ewald Filho
Deu a Louca no Mundo Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/04/2012

A primeira bem-sucedida comédia em superprodução, com elenco allstar (reunindo nomes famosos da comédia de Las Vegas, da televisão, veteranos do cinema - ás vezes em pontinhas) e o maior sucesso da carreira do diretor e produtor Stanley Kramer.

É bom recordar quem foi ele, já que nos últimos anos caiu em desgraça, nem quiseram lhe dar um Oscar especial (embora durante a carreira tivesse sido indicado para 9 Oscars e só levou o prêmio Irving Thalberg em 1962).  Deixou viúva a atriz Karen Sharpe.

Kramer, Stanley (1913-2001). Produtor e diretor americano. Nascido em 29 de setembro em Nova York, sua família participava na distribuição cinematográfica. Começou a trabalhar em estúdios, roteirista para a Columbia e Republic, na Metro como assistente de produção.

Depois da guerra, formou uma companhia independente que realizou alguns dos filmes mais importantes da década de 50-60. Foi o primeiro a tocar nos preconceitos raciais (Clamor Humano, de Mark Robson), adaptar Arthur Miller (A Morte do Caixeiro Viajante, de Benedek), continuando seu espírito polêmico quando passou também a dirigir.

Embora nunca evitasse a demagogia e o sentimentalismo, na época Kramer foi louvado como corajoso e honesto. Seus filmes posteriores, porém, mostraram que ele perdeu a fórmula. E que, antes de tudo, foi um produtor oportunista, capaz de contratar os diretores certos para fitas como Matar ou Morrer; O lnvencível; Espíritos Indômitos; Cyrano de Bergerac.

Nos anos 70, dedicou-se ao ensino em faculdades. Em meados dos anos 80, anunciou seu retorno, que não deu certo. Continuou na obscuridade até sua morte. Dirigiu ainda para a televisão (o piloto da mal sucedida série Guess Who´s Coming to Dinner, 75; e da série Judgement 74-75: The Court Martial of Lieutenant William Calley, of the Tiger of Malaya – General Yamashita e Julius and Ethel Rosenberg). Dirigiu também as cenas adicionais de Pressure Point/Tormentos D´Alma de Hubert Cornfield, 62.

O diretor Kramer resolveu mudar completamente de rumo quando fez esta super comédia (que passou aqui na tela em 70 mm do Cinerama, na verdade pelo sistema Ultra Panavision), que pretendia ser um resgate da comédia pastelão, do humor visual.

Dessa forma, reuniu o maior número possível de humoristas, principalmente do cinema mudo e da televisão, usando Spencer Tracy como fio condutor. Este é um policial que resolve se corromper quando um homem moribundo (o célebre narigudo do show business Jimmy Durante) fala sobre um tesouro provocando uma corrida ao ouro, com vários casais e parceiros correndo atrás da fortuna.

Tudo numa sucessão de desastres e confusões. O filme perdeu um pouco de seu humor porque hoje se usa um ritmo mais intenso (e nem todos os comediantes funcionam). Mas há momentos preciosos (como a aparição rápida de Jerry Lewis). Pena que não seja tão divertido quanto você lembrava ou imaginava. Foi indicado aos Oscars de Fotografia, Montagem, Trilha Musical, Canção, Som e ganhou o de Efeitos Sonoros.

O roteiro original era de William Rose (1914-87), que fez sua carreira na Inglaterra onde escreveu comédias famosas como Geneviéve, Quinteto da Morte, The Smallest Show on Earth. De volta aos EUA, teria êxitos como Adivinhe Quem Vem Para Jantar, Os Russos Estão Chegando. Aqui ele escreveu e vendeu a história como se fosse uma carta (por 300 mil dólares). Depois quando escreveu o roteiro, era tão detalhado que os atores receberam duas versões, uma só com as falas e outra com a ação.

Por isso houve muito pouca improvisação a não ser com Peter Falk (porque não havia necessidade). A rodagem durou inacreditáveis sete meses pela dificuldade das cenas de stunts com carros e aviões.

O então estreante em cinema, Jonathan Winters, estava sempre ligadão (sem drogas), como Kramer era muito respeitoso com os humoristas, sempre pedindo e aceitando sugestões e deixando eles capricharem no timing.

Assim usou veteranos como Leo Gorcey (de Os Anjos da Carfa Suja), Jack Benny, Os Três Patetas (a mais curta), Buster Keaton, Sazu Pitts (estava muito doente e foi sua última aparição). O papel que ficou com Sid Caesar era para ser feito por Ernie Kovacs que morreu pouco antes de acidente de carro (sua mulher, porém Edie Adams aceitou continuar no filme).

Arnold Stang, que aparece na destruição do posto de gasolina, machucou o braço e aparece disfarçando com o curativo. Não existe o Santa Rosita State Park do filme que, na verdade, é o Portuguese Bend no Rancho Palos Verdes. Hoje é proibido entrar lá e não existem mais as quatro palmeiras do filme (foram destruídas por tempestades).

Stan Laurel (O Magro) recusou participar do filme por que desde que o parceiro Oliver Hardy (O Gordo) morreu, em1957, jurou nunca mais trabalhar como ator. E cumpriu.

Ethel Merman, famosa estrela de musicais da Broadway, faz pela primeira vez papel onde não canta, uma megera que ataca os outros com uma bolsa (onde tinha jóias) e que deixou um galo na cabeça de Berle que durou 6 meses! O papel dela era originalmente para um homem. Foi feita e não usada uma cena com The Shirelles que ainda cantam a música tema e 31 Flavours.

Bob Hope, Jackie Mason, George Burns e Red Skelton recusaram participar do filme enquanto Judy Holliday não pôde por causa de problemas de saúde.

Quase todas as perseguições de carro foram rodadas onde hoje é Palm Desert, CA. Os papéis de Melville e Monica Crump eram maiores originalmente e escritos para Mickey Rooney and Judy Garland (mas ela não pôde por causa de seu show de TV).

O astro do filme Spencer Tracy trabalhou no filme um total de nove dias. E assim mesmo de 3 a 4 horas por dia (porque ele tinha diabetes e enfisema). O célebre Saul Bass (Psicose) criou os títulos de abertura.

Talvez o filme não tenha hoje o mesmo impacto, mas foi enorme sucesso em sua estreia (quando há anos não se via nada parecido) e em sucessivas reprises no cinema!

É um filme muito querido pelos que foram crianças na época. E se hoje não impressiona tanto, ainda tem momentos divertidos principalmente porque ninguém faz mais hoje em dia esse tipo de comédia.