Exibido na TV mas nunca em nossos cinemas. Talvez a melhor filmagem de uma peça em todos os tempos.
O grande diretor Sidney Lumet (Doze Homens e uma Sentença, 1924-2011) nem tentou disfarçar sua origem. Mas aproveitou a locação a beira mar para dar algum respiro a uma obra-prima de O´Neill (que só liberou o texto para ser encenado depois de sua morte. Montada em 1956 com Fredric March e sua mulher Florence Eldrige, junto com Robards. Ganhou o Tony e o Pulitzer).
Já vi o espetáculo com Cleyde Yaconis e na Broadway com Vanessa Redgrave, ambos comparáveis com esta esplendida interpretação de Katharine Hepburn, provavelmente a melhor de sua fase final (ela chegou a ser indicada ao Oscar e Globo de Ouro e era de seus papeis preferidos).
Aliás, todo o elenco, os quatro centrais, foram premiados no Festival de Cannes coletivamente (o que é muito raro por lá). Dean Stockwell único ainda vivo do elenco é quem faz o próprio autor, numa unidade de tempo e lugar. Uma noite inteira até a chegada do dia, na vida da família dos Tyrone, onde o pai (o britânico Sir Richardson) é um decadente e sovina ator alcoólatra, a mãe é uma viciada em drogas, morfina desde o nascimento do filho mais novo e é dada a delírios. São dois filhos, o mais velho instável e malsucedido (Robards), também se tornou alcoólatra e o mais novo sensível e que tem pretensões a escritor.
Eles se digladiam e revelam suas neuroses, num retrato do pior de uma família. Foi ensaiada por três semanas e depois rodada em ordem cronológica (o que raramente sucede no cinema). Absorvente, trágico e humano. Para ser visto ao menos uma vez na vida.