Ano passado no Festival de Cannes este filme concorreu aos prêmios credenciados por ser apresentado (não nos créditos) por uma das queridinhas do Festival e colega australiana Jane Campion. Não ganhou nada, mas é um filme de arte curioso, daqueles que lidam com o erotismo de uma maneira muito particular, quase um anti-erotismo. É obra de uma diretora/roteirista que vem de uma carreira como escritora, se dizendo influenciada por romancistas como Yasunari Kawabata, Gabriel Garcia Marquez e segundo alguns Georges Bataille.
Para o espectador mais modesto, a gente encontra elementos que me fizeram lembrar Belle de Jour, de Buñuel e De Olhos Bem Fechados, de Kubrick. O que não é nada mal. Ao contrário de outros filmes da moda, inspirados em contos infantis ou de fada, o título aqui é para ser levado ao pé da letra. É realmente a história de uma garota que ganha a vida dormindo! Que vai dormir e acorda sem saber o que lhe sucedeu, como se nada tivesse acontecido. Um papel para uma jovem australiana Emily Browning que já conhecíamos no papel central do fracasso Sucker Punch (ela tem uma cara antiga e se especializa em não registrar emoções!). E que passa o filme quase sempre sem roupa.
Ela interpreta Lucy, que é quase um zumbi, uma morta-viva sobrevivendo de expedientes na cidade grande, se prostituindo ocasionalmente, trabalhando em serviços de limpeza e office boy, funcionando em experiências médicas, tentando estudar, cheirando cocaína ocasionalmente.
Sua vida parece mudar quando é recrutada por uma cafetina de luxo chamada Carla (Rachael Blake) que trabalha com uma lista de clientes muito velhos e aparentemente impotentes que não querem mais ser vistos quando fazem sexo. Daí a proposta do filme: uma garota que toma um chá que a faz dormir profundamente num leito de luxo. Os velhos podem fazer dela o que desejarem, mas sempre evitando, garante a Madame Carla, sem penetração.
O filme é apenas isso, o retrato por vezes constrangedor e nunca emotivo. Nem especialmente dramático. Diz quem conhece os livros de Miss Leigh (The Hunter, Disquiet) que é um personagem que se enquadra dentro da psicopatia da autora e se é mal-estar que ela pensou em transmitir sem dúvida conseguiu. Não curto especialmente personagens sonambulisticos que quase não falam, não sabem se expressar, nem dizem a que vieram. Mas certamente existem pessoas assim e semelhantes desvios da sexualidade. Não é o que eu chamaria de boa diversão.