Crítica sobre o filme "Pina":

Rubens Ewald Filho
Pina Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/03/2012

“Dance, Dance, se não estaremos perdidos”. Este é “tag line”, a frase promocional alemã e americana deste documentário fora do comum, desde seu ponto de partida, é o primeiro filme sobre balé realizado em 3D.

Bem, de acordo com sua criação, tem tido uma carreira fora do comum: foi o candidato oficial da Alemanha para o Oscar (que em geral não admite documentários na categoria) e acabou concorrendo como melhor documentário do ano. Também indicado ao Bafta de filme estrangeiro, ao Independent British, ganhou o European Film Award de documentário, o German Film Award (também como documentário).

Mesmo antes de A Invenção de Hugo Cabret, de Scorsese, estranhamente foram dois cineastas alemães que experimentaram o formato 3D no gênero documentário, no ainda inédito aqui comercialmente de Werner Herzog, A Caverna dos Sonhos Perdidos e Wim Wenders, que em 2007, depois de ver um show do U2 filmado em 3D, achou que “o espaço havia se expandido e que filmar com Pina era finalmente possível”.

A morte da coreógrafa em 30 de junho de 2009, pouco antes do início da filmagem, mudou o tom do filme. O que era um longa “com Pina” virou “para Pina”. Um tributo a essa artista que marcou para sempre a dança contemporânea (Almodóvar utilizou dela dois números: Café Muller e Masurca Fogo em seu filme Fale com Ela, de 2002. Fora isso, seu trabalho foi visto em poucos filmes, mais notadamente em Pina Bauch - A Portrait by Peter Lindbergh, 2002).

Ou seja, são estes filmes que estão refazendo a reputação do 3D antes confinado a blockbusters e terror. Era visto como um truque comercial, agora passa a ter também um enfoque artístico.

Pina, na verdade, aparece relativamente pouco no filme (há depoimento em off), o que é importante é recriar suas coreografias, com depoimentos de sua trupe e artistas principais. Algumas vezes encenadas num palco, outras vezes em exteriores (de preferência em volta de Wuppertal, uma cidade no noroeste da Alemanha, onde a companhia dela está situada).

É em florestas, campos, uma espécie de desertos e o que parece ser uma caixa portátil. Pina é um tributo a essa mulher que revolucionou a dança. Pina Bausch sempre dizia “você tem que ser um pouco mais louca em sua arte. Surpreenda-me”, contam os bailarinos (inclusive brasileiros).

Pina Bausch tinha um nome para seu estilo de dança. Ela o chamava de tanztheater ("dance theater”). Sua coreografia enfatizava as grandes emoções, os gestos sem esperança e o alegre absurdo da vida.

São expressões de mãos, dedos, rostos, torsos e membros, num todo mais que harmonioso, expressivo, dramático. Já houve outros filmes que tentaram capturar a dança em filme, mas nunca antes dessa forma, com essa liberdade. Também porque não havia antes uma Pina Bausch.

Houve queixas que não se chega a ver nenhum balé integral, que os depoimentos são declarações de devotado amor a sua mestra. Mas Wim Wenders não pretendeu lançar um olhar crítico.

 Você nunca viu um documentário como este porque pela primeira vez a A Terceira Dimensão está a serviço da dança, da poesia, da expressão corporal, da preservação da obra de uma grande artista.

Talvez um reparo: assistir uma vez pode não bastar. A primeira vale como uma imersão no universo da artista, deixe passar uns dias e retorne. Assim o prazer será mais intenso.