Crítica sobre o filme "Porto, O":

Rubens Ewald Filho
Porto, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/03/2012

Não sou grande admirador do diretor finlandês Kaurismaki. Não curto seu estilo de humor, nem consigo me interessar por suas narrativas. Admito que seja consistente e tem uma maneira própria de iluminar as cenas (sempre partindo de um foco central) e contar uma história (sem fluência), além de manter um elenco de atores preferidos (acrescido aqui de pontas de amigos, como o alter-ego de Truffaut Jean Pierre Léaud (como o vilão que denuncia tudo) e o outrora famoso comediante e diretor Pierre Étaix (como o médico). Então me desculpem a falta de entusiasmo com este filme que para mim é superestimado.

Ganhou o prêmio da crítica de Cannes, foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro pela Finlândia (mas não ficou nem entre os nove finalistas), teve quatro indicações ao César, quatro ao European Film Award, o Prix Louis Delluc e melhor filme no Festival de Chicago e entre cinco melhores estrangeiros pelo National Board of Review.

Não deixa de ser curioso o ponto de partida, já que o herói de meia idade Marcel é um engraxate (e, portanto, uma profissão em vias de acabar porque hoje todo mundo usa tênis ou mocassim). Ele vive num casebre com sua mulher que está sofrendo de uma doença grave e precisa ser operada. Moram no porto de Le Havre. Apesar deste ser o título do filme, não se fica conhecendo o lugar porque o diretor é contra mostrar planos gerais que identifiquem melhor o ambiente (poderia se passar em qualquer lugar onde houvesse emigrantes ilegais).

Parece habitado por aquelas pessoas de bom coração que só existem no cinema. Dono de lojinhas e bares, que não querem dar fiado, mas que estão prontos a ajudar uma criança africana que consegue fugir e ser protegido por Marcel (na vida, ainda mais na França não é bem assim).

Sem ser conto de fadas, o filme não é tampouco realista, nem está denunciando nada. Embora evite o sentimental, nenhum um dos personagens é verossímil, apesar do esforço do policial, por exemplo, que é feito pelo melhor ator do elenco: Jean Pierre Darrousin. Não consegui penetrar a placidez, nem encontrar especial poesia no filme. Nem chega a ser ruim. Mas a razão de tantos prêmios é um mistério.