Não é preciso insistir nos elogios de Ryan Gosling, que sem dúvida é o astro jovem deste ano e ao menos no momento uma unanimidade. Se estava ótimo na comédia Amor a Toda Prova, convincente no político Tudo pelo Poder tem seu maior momento de estrelato neste Drive, um filme estilizado e maneiroso nascido para ser cult.
Não conhecia muito o diretor roteirista Nicholas Winding Refn, embora já tivesse visto um ou dois de seus filmes Pusher (é uma trilogia feita entre 2004 a 2006, mas que não chegaram a ser importados para o Brasil).
Eles eram muito mais descontrolados do que este, mas sem dúvida já tinham um notável visual, uma montagem exuberante (o diretor não fez escola de cinema, é filho de um montador que deve ter lhe ensinado muito).
Com câmera na mão, eram basicamente longas perseguições ao herói (um amoral traficante) um total anti-herói. Não vi, porém os dois outros filmes intermediários Bronson (2008, com Tom Hardy, sobre prisioneiro que se acha com a personalidade de Charles Bronson e Valhala Rising, 2009, com Mads Mikkelsen, sobre guerreiro mútuo no começo dos tempos).
Parece indiscutível, porém, que o diretor dinamarquês (que foi criado também em Nova York), nascido em 1970, é um jovem talentoso e muito promissor. Não é preciso ser muito esperto para verificar isso, basta assistir a este filme. Antes um detalhe importante: o protagonista não tem nome: é conhecido apenas como o motorista.
Desta vez não foi Refn quem escreveu o roteiro, mas o iraniano Hossein Amini (que tem feito scripts importantes como Asas do Amor, Jude – Paixão Proibida, com Kate Winslet, As Quatro Plumas, com Heath Ledger), baseado no livro de James Sallis. Basicamente é sobre um “loner”, um solitário que é um grande motorista, usado quando lhe interessa para conduzir a fuga de assaltos.
Na verdade, leva uma vida dupla em Los Angeles, durante o dia ele é um stuntman de cenas de perigo em filmes. Durante a noite, se arrisca em participar de assaltos, desde que os ladrões aceitem suas regras restritas de segurança.
Naturalmente alguns são rebeldes ou ficam nervosos e complicam a situação, exigindo mais que habilidade, esperteza e truques para escapar da polícia.
Godard dizia que para fazer um filme basta ter uma garota e um arma! Mas não é o suficiente para Refn, que vai buscar suas influências nos filmes de estrada, tipo Corrida contra o Destino ou Dirty Larry, Crazy Sally. Correr, dirigir tem um significado existencial.
Ainda que solitário, o protagonista tem amigos, Bryan Cranston, de Breaking Bad, faz o mecânico que o ajuda e o apoia. E no seu prédio ele esbarra numa jovem mãe (a chata inglesa Carey Mulligan e sua cara de pequinês) por quem se sente atraído em vez de seguir seus instintos e perceber que ela significa problemas e confusão (o marido mexicano dela está na prisão e sairá em breve, ficando amigo também dele, unidos pelo filho do casal).
E logicamente a situação vai se complicando ainda mais quando há um outro assalto, e pior ainda num plano complicado do amigo mecânico que tenta convencer dois gângsteres (Ron Pearlman, da antiga série A Bela e a Fera e o também diretor e comediante Albert Brooks) a lhe financiarem o desenvolvimento de um novo carro de corrida que pode representar a saída daquele tipo de vida.
Mas nada sai como previsto. O assalto se complica (com destaque para a muito interessante Christina Hendricks, de Mad Men) e de repente eles se tornam a caça, as vítimas. E finalmente o filme explodirá com violência.
Não parece exagero detectar tons de “film noir”, de angústia existencial, de um universo fechado sem saída, de requinte visual. Não resista: o filme é ao mesmo tempo muito “cool” e muito hábil em fazer a gente entrar na trama e ficar impressionado com as reviravoltas e principalmente as interpretações.
A mais consagrada tem sido justamente a de Brooks, que deve ser indicado ao Oscar e surpreende mudando completamente de tipo e de personagem (prova que quase sempre comediantes são capazes de fazer papéis dramáticos com facilidade, só que infelizmente ele é pouco conhecido no Brasil para se apreciar bem isso).
Premiado como melhor diretor no Festival de Cannes de 2011, Drive é certamente a melhor estreia deste começo de ano. Um filme que você deve conferir.
Você conhece Albert Brooks?
Não é provável. Por isso tem se espantado em ver o nome dentre os possíveis indicados ao Oscar de ator coadjuvante este ano. E não tem percebido o que está acontecendo de curioso: Brooks (que também é judeu, mas não parente de Mel Brooks) é antes de tudo um humorista, roteirista, ator e diretor. E pela primeira vez arrisca fazer não apenas um papel dramático, mas principalmente de vilão, de gângster. E sai-se muito bem, impressiona.
Albert Laurence Einstein nasceu em 22 de julho de 1947, em Beverly Hills, filho de atores, Thelma Leeds e Harry Parke (conhecido como Parkyakarkus). O pai morreu quando ele tinha 11 anos durante uma festa em homenagem a Lucille Ball.
Chegou a estudar no Carnegie Tech in Pittsburgh, mas largou o curso para fazer carreira como “standup comedian”. A partir de 1969, começou a fazer ator convidado em séries de TV, mas foi estrear no cinema num papel dramático em Taxi Driver, de Scorsese (1976). Embora tivesse convites interessantes (foi convidado a fazer Uma Linda Mulher em vez de Richard Gere e Harry e Sally - Feitos um para Outro, porque achava que parecia demais Woody Allen. Billy Crystal teve enorme êxito com o filme. E ainda recusou Quero Ser Grande, porque não queria fazer um garoto).
Preferiu investir na carreira de ator/diretor/roteirista, o que fez gente como eu justamente considerá-lo um sub Woody Allen, como ele temia. Tratando dos problemas do amor com o mesmo humor desencantado (e um pouco de amargura). Ficou famoso finalmente pelo trabalho na TV no show humorístico Saturday Night Live.
Estreou na direção em 1979 com roteiro seu, A Vida como Ela É. Mas seus filmes, porém, custam a emplacar com o grande público. Não fez sucesso nem mesmo com seu melhor trabalho, Mãe é Mãe, onde deu uma oportunidade de voltar por cima para Debbie Reynolds, que chegou a ser indicada ao Globo de Ouro. Também teve o apoio de muitos diretores famosos (como James Cameron) em A Musa. Mas continuou sendo curtido por poucos.
Como ator, além de em seus próprios filmes, trabalhou em Recruta Benjamin (1980) e Infielmente Tua (1984), ambos de Howard Zieff; Broadcast News, de James L. Brooks (1987); Irresistível Paixão, de Steven Soderbergh (1998); Até Que os Parentes nos Separem (The In-Laws, 2003), de Andrew Fleming, etc. Fez ainda as vozes em desenhos como Procurando Nemo (ele é o pai do Nemo), além da série e do filme Os Simpsons. Em 2008, fez parte da série de TV Weeds. Ainda assim nada preparava para este grande momento em Drive.
Albert é casado com Kimberly Shlain desde 1997, com quem tem dois filhos.
Mais sobre Ryan Gosling e Nicolas Winding Refn
Encontro uma entrevista de Ryan Gosling que afirma que seu personagem na verdade é um lobisomem e depois outra do diretor confirmando isso ao dizer: "O personagem que Ryan interpreta no filme no fundo é um lobisomem, porque no fundo ele é um psicótico, um homem que é duas pessoas: uma durante o dia, outra a noite".
Nosso filme, ele ainda afirma, é sobre o que eu faria e a pureza do amor entre minha mulher e eu! E prossegue: "É como um coração, precisa de sangue para funcionar. Por isso de certa maneira é sexual. Fazer filmes é sexual, porque é sobre trabalhar com seus colaboradores tão intensamente quanto numa experiência sexual, descobrindo o que a oura gosta, deseja e contribuir para a emoção que está tentando construir”. Meu Deus, será que estamos diante do novo David Lynch?