Crítica sobre o filme "Caminho para o Nada":

Rubens Ewald Filho
Caminho para o Nada Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/02/2012

Duvido muito que vocês tenham ouvido falar no diretor Monte Hellman, que é daqueles cult em poucos circuitos de arte no exterior e nunca no Brasil, onde jamais deixou impressão alguma. Para falar do filme é lógico antes situá-lo.

Monte Hellman (1932-) é um diretor americano, nascido em 9 de julho em Nova York. Conseguiu reputação com a crítica europeia com dois faroestes modestos: The Shooting e Ride in the Whirlwind. Da mesma geração de Jack Nicholson, começou em um grupo teatral em São Francisco. Depois trabalhou com Roger Corman, que lhe deu a chance de estrear na direção em 1959. Com Corman teve experiência de quase tudo: foi montador em The Wild Angels, 1966; diretor de exteriores em The Terror, 1963; diretor de diálogos em O Massacre de Chicago, 1967; etc. Com um começo tão elogiado, é uma pena observar que no fim dos anos 1970 sua carreira estava praticamente encerrada. Depois do desapontamento com Two-Lane Blacktop, dirigiu, apenas poucas vezes, fitas sem maiores méritos. Além disso, montou o filme A Elite Assassina, de Peckinpah, e terminou Pânico no Atlântico Express/Avalanche Express, 1979, depois que o diretor Mark Robson morreu durante a produção e fez a mesma coisa com O Maior de Todos/The Greatest, 1977, quando Tom Gries faleceu. Em 1974 começou a dirigir Me Chamaram o Destruidor/Call Him Mr. Shatter, mas foi demitido antes de terminar e o filme foi completado por Michael Carreras.

O filme dele que as pessoas mais lembram é Corrida sem Fim, que passou apenas na Rede Globo numa madrugada e tinha James Taylor no elenco só que não tinha final e deixou todo mundo furioso ou curioso, dependendo do gosto.

Ele agora veterano, por conta de algum fã e benfeitor, retorna com um filme B igualmente misterioso e que parece que já passou por outras praças do Brasil antes de chegar a São Paulo. É o Primeiro dele em 21 anos, tempo em que ele lecionou na conhecida Escola Cal Arts.

Acho que a experiência lhe ensinou que é melhor não explicar nada e fazer filmes misteriosos como os de David Lynch, que as pessoas acreditam que são burras e perderam alguma coisa. Aqui ele nunca fornece os detalhes da trama ou os esclarece.

Seria um neo-noir sobre um cineaste egocentric e pretensioso Mitch Haven (Tygh) que está tentando fazer um filme de arte sobre um mistério real que sucedeu nas Smoky Mountains da Carolina do Norte, onde a arte imita a vida ou vice-versa. Envolve falsos suicídios e um roubo de seguro. Tudo chegando à beira do surreal. Mistura o filme dentro do filme e literalmente nos leva ao Nada como sugere o título. E tem ainda por cima um fim ainda mais misterioso.

Também tem clipes de alguns filmes famosos (Sétimo Selo, de Begman, Espírito do Colméia, de Victor Erice, As Três Noites de Eva, de Preston Sturges). Mas o que torna mais confuso para o público é que atores como Cliff De Young fazem papeis duplos (o personagem no filme e na vida real) e nem o diretor do filme que está sendo feito, nem Hellman conseguem separar o que é fantasia do real.

Talvez para alguns o filme seja intrigante, até por que revela alguns bastidores de uma filmagem, mas é bom ficar sabendo que é um mistério sem solução.