Um drama romântico original, de alma feminina, baseado no livro mundialmente famoso do Realismo Russo “Anna Karenina”, publicado em 1877 por Leon Tolstói, e também no conto “Na guerra japonesa”, de Vikenty Veresaev. A diferença desta adaptação para as mais de 30 que já foram feitas está no ponto de vista, narrado aqui pelo amante de Anna Karenina, o oficial de Cavalaria Vronsky. Ele é o fio condutor de toda a trama, cheia de detalhes e mistério, num personagem mais maduro - está ferido na guerra e abrigado em um hospital numa aldeia. Quem escuta as histórias sobre o passado de Anna é o filho dela, o militar Serguei Karenin, que tenta compreender, 30 anos depois, o que levou a mãe, que tinha dinheiro, status, poder e beleza, a agir de forma estranha e fora dos padrões da época, quando abandonou o marido para ficar com o amante, causando um estrondo na aristocracia russa.
O filme, de 2017, tem uma riqueza plástica única, com uma direção de arte exuberante atrelada a uma fotografia das mais bonitas que vi no cinema recentemente. As cores tocam a alma! Observem as cenas de dança dentro dos palácios, de tirar o chapéu. O pano de fundo real, tanto da guerra quanto do Czarismo, ajuda na construção da ideia sobre traição, decisões e aprisionamento - se passa na Manchúria, em 1904, durante a guerra entre os Impérios Russo e Japonês, que disputavam o controle dos territórios da China, e o filme abre com um longo travelling num campo de batalha, com cantoria e um cenário de destruição.
Foi produzido pelo canal de TV Rússia 1 (por isso carrega um aspecto de seriado dos bons), em parceria com a Mosfilm, o principal estúdio da Rússia desde 1920 e um dos mais antigos da Europa. As gravações deste longa-metragem correram simultaneamente com a de uma minissérie (de oito episódios de 42 minutos cada), ambos dirigidos por Karen Shakhnazarov, talvez o maior cineasta russo dos tempos atuais (ele é diretor da Mosfilm), de “Noite de inverno em Gagra” (1985), “A filha americana” (1995) e “Tigre branco” (2012).