Atual diretor da Mosfilm (o maior estúdio de cinema da Rússia, produtor de centenas de obras marcantes desde a estrutura soviética), Karen Shakhnazarov costuma realizar filmes metafóricos com ar político, que dialogavam com a crise em seu país quando o Socialismo se desmantelava na década de 80. “O mensageiro” é, talvez, o melhor dos trabalhos dele, pontual, e de certa forma, atual, pois trata de uma geração de jovens desiludidos no novo mundo em transformação. Nessa comédia dramática inspirada, o personagem central, o aborrecido adolescente Ivan (Fyodor Dunayevsky, que abandonou a carreira de ator depois de três filmes), sofre pressão da mãe para ou seguir firmemente os estudos ou trabalhar, então opta pela segunda proposta. Consegue emprego como mensageiro de um jornal, e no vai e vem da rotina, aproxima-se de duas pessoas que irão abrir sua mente, um velho professor (o veterano Oleg Basilashvili) e a filha (Anastasiya Nemolyaeva), com quem ele vai conviver mais do que a própria mãe.
No trânsito dessas relações, o diretor discute o fim da Era Gorbachev, mostrando uma sociedade à deriva, sem perspectivas, que presenciava o Socialismo ruir, em meio a uma crise política, social e econômica (o filme é de 1986, estamos falando de anos antes da queda do muro de Berlim e da dissociação da URSS). Há um grau de melancolia no trato da história, reforçado pela bonita fotografia escura e de ambientes internos (casas, escritório), do mestre russo Nikolay Nemolyaev, além de uma trilha sonora eletrônica bem modernosa, assinada por Eduard Artemev (compositor de trilhas de Andrei Tarkovsky, como “Solaris” e “Stalker”).
Ganhou de um prêmio especial no Festival de Moscou, o filme é baseado num romance do próprio diretor, com roteiro escrito por um velho parceiro de cinema dele, Aleksandr Borodyanskiy (juntos fizeram sete filmes, como “Assassinato do Tzar” e “Tigre branco”).