Crítica sobre o filme "Colecao Peter Weir: A Costa do Mosquito, O Ano em que vivemos em Perigo, Piquenique na Montanha Russa, Sem Medo de Viver":

Rubens Ewald Filho
Colecao Peter Weir: A Costa do Mosquito, O Ano em que vivemos em Perigo, Piquenique na Montanha Russa, Sem Medo de Viver Por Rubens Ewald Filho
| Data: 12/05/2000

O ANO QUE VIVEMOS EM PERIGO ***

O diretor australiano Peter Weir fez filmes brilhantes, como A Testemunha e Sociedade dos Poetas Mortos. Nesta sua primeira produção americana preferiu realizar um melodrama romântico como pano de fundo. A ação se passa na Indonésia em 1965, quando se esperava uma tentativa de golpe. Um correspondente estrangeiro encontra uma funcionária da embaixada britânica. Pena que a intriga seja banal, apesar das boas locações (nas Filipinas). Na verdade quem rouba o filme é Linda Hunt, excelente no papel de um homem que lhe deu o Oscar de atriz coadjuvante.

PIQUENIQUE NA MOSTANHA MISTERIOSA ***

O filme que revelou o excelente Weir. O problemaé que o público comum vai ficar frustrado esperando conclusão que nunca chega. É inspirado num fato real (recentemente descobriu-se que tudo foi inventado pela autora do livro em que o filme foi baseado). Em 1900, garotas de uma escola de alta burguesia vão fazer um piquenique. Algumas delas desaparecem misteriosamente. Um filme de muito clima, belíssimas imagens. Mas o final pode irritar.

SEM MEDO DE VIVER **1/2

É pena que o diretor australiano Peter Weir, não tenha mais acertado em grande estilo desde Sociedade dos Poetas Mortos. Perdeu tempo com o descartável Green Card e agora erra o alvo com Sem Medo de Viver, uma fita até decente mas de pouca repercussão (e que certamente você nunca irá assistir numa viagem de avião). Ainda assim não esconde o domínio técnico e narrativo de Weir (que fez também a Testemunha), que consegue nos envolver sempre. É baseado em livro de Rafael Yglesias, adaptado pelo mesmo autor, considerado impossível de adaptar para o cinema. Talvez seja verdade. Porque a história é perturbadora, já que o fundo todo mundo tem medo de avião e não gosta de pensar no assunto, ainda mais quando é tratado a sério. Não como mera aventura. Jeff Bridges (que anda passando por uma fase má, virando canastrão, ainda não se reabilita aqui) é um arquiteto de San Francisco casado com Isabella Rossellini (apesar dos 41 anos, ainda belissima) que sobrevive a um acidente de avião, até mesmo salvando alguns dos passageiros (lembra um pouco Herói por Acidente). Sai de tudo isso absurdamente calmo, em estado de choque, mesmo quando tem que lidar com fatos como a morte do sócio (que deixou a família em dificuldades). Mas tem também uma sensação de auto suficiência, como se fosse um tipo acima do perigo. Desafia até a morte mas ao mesmo tempo tenta ajudar uma outra sobrevivente que não consegue se reajustar a perda de seu bebê (do qual ela involuntariamente foi responsável). Eventualmente Jeff e ela (feita pela porto riquenha Rosie Perez, de Homem Branco não sabe enterrar e que por este filme foi indicada para o Oscar de coadjuvante) acabam se unindo e fazendo um tipo de exorcismo emocional. O filme vai deixando os detalhes do acidente, se compondo aos poucos em flash backs, até desvendar tudo ao final. A conclusão fica naquele meio termo perigoso que em geral determina o fracasso comercial. Um filme interessante mas não bem sucedido.