EDITORIAL 32
Atualizado
conforme o bom humor do Editor-chefe
21 de outubro de 2003
Se
você ainda não parou para refletir a respeito,
o DVD está na mesma órbita da questão ‘filmes
baixados da internet’. Com o advento do aparelho de DVD,
formatos quase esquecidos como o VCD e o SVCD (precursores do
DVD) voltaram à cena, e de certa maneira, rejeitados pela
grande indústria que temem a pirataria. Nem todos os DVD
Players rodam estas mídias ‘alternativas’,
e parte do que disponibilizam, não lêem discos gravados
(CD-R e CD-RW), o que restringe um pouco o mercado pirata de
filmes para DVD. Em qualquer caderno de classificados ou mesmo
pela internet, há dezenas de sites que oferecem filmes
inéditos nas locadoras, lojas e até nos cinemas,
como o campeão mundial de downloads (segundo o jornal
New York Times) Shaolin Soccer e o ‘cult’ de
terror A Casa dos 1000 Corpos (House of 1000 Corpses),
de Rob Zombie.
E
os preços são demais convidativos para esta experiência:
custam igual ou menos que uma diária de locação
pelo singelo custo da gravação de um CD virgem
(abaixo de 1 real), daí o temor da indústria de
entretenimento. Como o preço de um disco de DVD virgem
ainda ‘não compensa’, os filmes são
oferecidos em CD por um custo quase insignificante através
de VCD ou SVCD. Envolvidos pela curiosidade da matéria
do jornal nova iorquino, acabamos comprando por telefone - depois
de verificar a ‘listinha’ do pirateiro na internet
(mais de 100 filmes, inclusive pérolas como o ‘clássico’ da
Xuxa, Amor, Estranho Amor) – os VCDs dos filmes acima informados.
Na grande maioria, a lista indica ‘qualidade DVD’,
o que nos deixou mais intrigados. Questionamos se não
eram ‘filmagens dentro de cinema’, como já nos
deparamos quando compramos em lojinhas na Av. Paulista, em São
Paulo (leia a matéria aqui). Aqui, em Porto Alegre, com
a taxa de entrega do motoboy, saiu por R$ 15,00. Como você também
deve saber (ou suspeitar) os números dos pirateiros são
todos de celular, para não indicar o local do processamento.
Levou 1 dia para entregar, porque pedimos no meio da tarde, mas
se consegue até para o mesmo dia, dependendo da quantidade
do pedido. De posse dos CD-Rs (1 para cada filme e sem caixa),
fomos correndo conferir a qualidade do material dito ‘de
DVD’.
A
qualidade de imagem de Shaolin Soccer alternava momentos ruins,
bastante quadriculada, ora razoável, apesar das boas legendas
(cor amarela e de tamanho bem legível). Já o áudio
era melhor, em 2 canais e aceitável comparando com outros
títulos em DVD. Quanto ao filme, é engraçado
e um tanto bobo. Lembra bastante os filmes do Asterix
e Obelix,
pelo exagero das estórias em quadrinhos. Misturar karatê com
futebol, por si só, já vale pela curiosidade. Tenha
em mente Tigre e o Dragão e uma bola. A
grande surpresa foi com A Casa dos 1000 Corpos. Além
de ser um dos melhores filmes de terror dos últimos 10
anos, a qualidade do VCD aproximava-se a muitos DVDs vendidos
em bancas ou de distribuidoras picaretas. O interessante era
que em 4 ou 5 momentos aparecia (e ficava por alguns minutos)
abaixo da tela – em inglês - algo assim: “Propriedade
da Lions Gate. Proibida a venda e locação”.
No mínimo, tratava-se de uma cópia de DVD de serviço,
aqueles que são distribuídos à imprensa
especializada, como nós recebemos com os lançamentos
para o nosso mercado. Da mesma forma, a qualidade das legendas
era muito boa (amarela e graúda) e o áudio em estéreo
razoável. O filme pode ser um híbrido entre O
Massacre da Serra Elétrica e Assassinos
por Natureza do Oliver
Stone. Corra atrás de uma cópia deste filme,
porque realmente vale a pena.
Escolhemos
estes filmes porque são inéditos nos
cinemas brasileiros como também não tem data (talvez
nem distribuidora certa) para o lançamento em VHS e DVD à época
deste artigo. Poderiam dizer alguns que nestes casos, como fossem
exceção à regra, não haveria afronta
aos direitos autorais porque não se identificam os beneficiários.
O fato é que não há mais fronteiras para
o conhecimento, e por isto, a dificuldade aparente de remunerar
a quem lhe é devido. Com a internet e o seu trânsito
livre e virtual de filmes, shows e músicas, e a possibilidade
de transmitir o conteúdo para o mundo real através
de CD-R ou de outra mídia, poderá inviabilizar
esta indústria de entretenimento que hoje conhecemos,
mas provocar o nascimento de outra ainda a ser moldada por nós.
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