DIRETORA NEOZELANDESA SUPERFICIALIZA O SEXO
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03 de maio de 2004

A cineasta neozelandesa Jane Campion aprecia o tema sexual e o tem dirigido em seus filmes provocando sufocantes estranhezas. Fogo sagrado (1999) é um belo exemplo de um levantamento visual dos conflitos entre a carne e o espírito. Em seu novo trabalho, Em carne viva (In the cut; 2003), a realizadora se rende às facilidades comerciais de Hollywood; embora conserve ainda a marca de alguma sutileza de filmar, a diretora prefere cenas mais diretas e objetivas, em que não se exige do espectador senão a submissão ao calor de imagens fáceis.

Longe das entrelinhas eróticas que ditavam a construção de suas obras anteriores, Em carne viva é terrivelmente explícito em suas cenas de sexo, ocorrendo até uma cena de figurantes em que se vê claramente uma mulher praticar sexo oral no membro de um homem; mesmo as seqüências da atriz principal, a outrora doce Meg Ryan, chegam próximas das vias de fato. Mas seu problema não reside aí; O império dos sentidos (1976), do japonês Nagisa Oshima, mostrava tudo e nem por isso deixa de ser uma obra-prima; o problema central da realização de Jane Campion é superficializar o sexo, fazer com que a trama escorregue para trechos de trivial baixo mundo ao modo de À procura de Mr. Goodbar (1977), do norte-americano Richard Brooks: num universo sombrio, mau e mesquinho, a ambigüidade comercial-artística da cineasta se esfacela, tornando tudo muito confuso em cena.

Bastante longo para o pouco que tem por dizer, Em carne viva acumula momentos de enfado ao longo de suas quase duas horas de projeção.

Por Eron Fagundes