A VOLTA DOS GRANDES PLANOS ABERTOS
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05 de abril de 2004

A essência clássica do cinema americano é dada pelo faroeste. O diretor Kevin Costner, conforme já exibira em Dança com lobos (1990), sabe levar a cabo uma boa narrativa do gênero. Em seu novo filme, Pacto de justiça (Open range; 2003), ele volta a investir com alguma sensibilidade na linguagem do faroeste: os grandes planos abertos das pradarias e os aspectos durões das interpretações masculinas indicam o estilo de filmar forte de Costner; a violência dos homens vai ter seu contraponto na presença terna e amorosa da personagem de Annette Bening.

Não se exija de Costner que revolucione o velho gênero, nem que estabeleça qualquer profundidade psicológica ou filosófica. Mas ele é bom no que faz: cultua um ritmo narrativo lento com uma sabedoria cinematográfica superior à maioria dos que dirigem filmes na Hollywood de hoje.

O elemento fácil de manipular os sentimentos do espectador para partilhar do ódio vingativo dos heróis tem nas mãos de Costner habilidade para evitar o quanto possível certos estereótipos ridículos. A seqüência dos tiroteios é mais inventiva do que o habitual nos filmes do gênero. As cenas de chuvas, onde um cãozinho é salvo das águas pelos heróis, evoca as filmagens de enchentes em Rio violento (1960), de Elia Kazan, um dos mestres em que Costner certamente se inspira para montar seu filme.

Sem trazer propriamente nada de novo para o cinema, Pacto de justiça é um dos poucos entretenimentos dignos do atual cinema americano, cuja marca parece ser a mediocridade pretensiosa de A paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson.

Por Eron Fagundes