A DESORGANIZAÇÃO BRASILEIRA
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11 de maio de 2004

O cineasta paulista Paulo Sacramento topa inevitável desvantagem ao ser comparado seu filme O prisioneiro da grade de ferro (2003) com o multicomentado Carandiru (2002), de Hector Babenco. O documentário de Sacramento tem sua ambientação no mesmo local em que Babenco emocionou o público com suas histórias de ficção extraídas de fatos reais: a prisão de segurança máxima Carandiru.

Sacramento busca algumas ousadias formais: quer (e o faz) entregar a câmara aos detentos para que registrem seu cotidiano, estabelecendo para o espectador a própria visão de mundo dos apenados. É bem verdade que esta desglamurização de filmar é um excelente material para um filme; o realizador Aloysio Raulino chegou usar deste procedimento, dando o equipamento de filmar a seu objeto fílmico, o outro; é algo complicado, pois o filme, se não se resolver na montagem, se desorganiza, torna obscura suas intenções apesar da transparência das imagens.

Assim, o documentário de Sacramento acaba tendo menos sentido real que o filme de ficção de Babenco. Seu miserabilismo formal e temático soa bastante anacrônico, embora não se possa deixar de simpatizar com suas idéias sociais. Na verdade, O prisioneiro da grade de ferro é antes um rascunho que um filme acabado.

Por Eron Fagundes