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A história passa bo sécilo XVII e retrata
o momento da criação mais significativa
do pintor Johannes Vermeer, que nasceu em 1632 e
morreu aos 43 anos, em decorrência de uma possível
crise de stress. Tendo sempre que pintar sob encomenda,
em troca de dinheiro, ele se vê numa crise
criativa até redescobrir a inspiração
numa jovem criada que vai morar em sua casa. Ela é Grief,
a humilde filha de um pintor de azulejo, que provoca
a ira da esposa de Vermeer. Apesar de ter inspiração
em fatos reais, a produção é basicamente
uma ficção sobre o relacionamento entre
o pintor e a criada e de como isto resultou numa
obra-prima da pintura mundial.
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Este é literalmente um filme de arte. É a
história, certamente inventada, da garota
que posou para o pintor holandês Vermeer (Colin
Firth) num de seus quadros mais famosos. Uma típica
fita inglesa que é um exercício intelectual
reimaginando as circunstâncias em que o artista
vivia e criava. Ele tinha problemas com a esposa
ciumenta, a sogra dominadora, os diversos filhos
e principalmente com os patrocinadores, um mecenas
metido à besta feito por Tom Wilkinson.
Segundo
o filme, a garota (Scarlet Johansson, a mesma de
Encontros e Desencontros e que por esse
filme teve também uma indicação
como coadjuvante ao Globo de Ouro) é uma servente
do pintor, que teve que trabalhar porque o pai ficou
doente. Ela namorava o filho do açougueiro
(Cillian Murphy, de Extermínio) e ajudava
Vermeer não apenas limpando seu ateliê,
mas principalmente auxiliando-o a misturar as tintas
(é curioso porque a gente nunca pensa nisso:
como devia ser difícil conseguir tintas numa
era pré-industrial).
Naturalmente
a fotografia (de um português)
tenta reproduzir o estilo de luz do pintor. Ou seja,
tudo é muito bonito, requintado, artístico.
Mas a fita não é nada especial, nem
tem grandes chances comerciais. Nem Scarlett, que
faz tudo direitinho, mas sua principal tarefa é ser
parecida com a moça da pintura. E só isso.
(Rubens Ewald Filho. Leia mais críticas
e artigos de REF na coluna Clássicos)
Sabe-se
que o filme Moça com brinco de pérola (Girl
with a pearl earring; 2003), de Peter Webber, teve
seu roteiro extraído da ficção
escrita pela norte-americana Tracy Chevalier. Mas
na verdade o minucioso rigor estético com
que o cineasta elabora seu jogo de cores e luzes
tem uma inspiração direta: as telas
pintadas pelo artista holandês Jan Vermeer
no século XVII. Aquilo que o cinema é antes
de tudo, a beleza plástica da imagem, tem
origens na pintura e depois na fotografia e não
propriamente na literatura (que serve, é bem
verdade, um certo suporte narrativo ao filme).
As
obras cinematográficas que foram à pintura
buscar seu coeficiente de deslumbramento perduram
na memória do espectador. O norte-americano
Vincente Minnelli em Sinfonia de Paris (1950)
e o francês Bertrand Tavernier em Um
sonho de domingo (1984) refizeram fotogramas
inteirinhos à sombra dos mestres impressionistas
franceses. A perversidade angelical do renascentista
italiano Sandro Botticelli paira sobre as imagens
do maravilhoso Piquenique na montanha misteriosa (1975),
do australiano Peter Weir. Talvez Webber não
logre impor seu trabalho na grandeza destes clássicos,
mas, diante da precária vulgaridade do cinema
contemporâneo, seu filme é um achado.
A
estudada fotografia do português Eduardo Serra
capta, com as possibilidades do cinema, a sensibilidade
da mão pictórica de Vermeer. E a precisão
da música de Alexandre Desplat marca bem o
ritmo narrativo. A direção de elenco é notável;
se Colin Firth é de fato um ator de grande
interioridade, a jovem Scarlett Johansson (que faz
sua criada e modelo) exubera no papel da sensível
ingênua e perplexa diante de um universo estranho
que se lhe abre.
Propondo
uma curiosa reflexão sobre a ironia do conhecimento
da arte, o filme estabelece uma relação
quase indestrutível entre o refinado artista
comprado pela aristocracia ignara mas endinheirada
da época e a garota analfabeta que revela
um surpreendente olho para a pintura. Um pouco à maneira
de Celeste (1981), obra-prima meio
esquecida rodada pelo alemão Percy Adlon, Moça
com brinco de pérola mostra a atração
primitiva que uma empregada pode sentir, meio obscuramente,
por seu patrão intelectualmente superior;
no filme de Adlon, eram as atrações
da criada do escritor francês Marcel Proust
nos anos finais dele (curiosamente, Proust é um
admirador que se deleita bastante descrevendo em
suas páginas as pinturas de Vermeer).
O
grande plano fixo do quadro “Moça com
brinco de pérola” na imagem derradeira
da realização de Webber mostra a extrema
fidelidade visual de sua narrativa ao processo estético
de Vermeer. É como se houvesse uma co-direção
entre o cineasta e o pintor. (Eron Fagundes.
Leia mais críticas do colunista em Cinemania)
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Há no início do DVD o trailer de “Querido
Estranho”
- Filmografias: dos atores Colin Firth, Tom Wilkinson
e Scarlett Johansson.
- Galeria de Fotos: 10 fotos de cenas do filme
- Trailer
- Novidades: trailers dos filmes “Menina dos
Olhos”, “O Enviado”, “As
Minas do Rei Salomão”, “Osama”, “A
Casa dos 100 Corpos” e “O Cavaleiro e
o Dragão”, todos legendados.
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Em um filme cujo principal atrativo é sua
fotografia, fica difícil elogiar a distribuidora,
pois a imagem, apesar de muito boa qualidade, está no
formato “full screen” para quem tem uma
TV convencional, ou seja, corta as laterais do filme
com relação ao original exibido nos
cinemas. Mas a edição não está apenas
razoável neste quesito: os extras são
muito fracos. No geral, um bom filme para quem aprecia
os chamados “filmes de arte” que não
teve um lançamento “de arte”.
Mas vale a sua locação.
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