TRAVESTIMENTO FEMININO NO CINEMA

Em Osama, ora em cartaz em São Paulo, uma menina é obrigada a se passar por garoto, depois que o pai e o irmão são mortos durante a ocupação do Afeganistão pelo regime do talibã. Só que é recrutada junto a outros garotos para ser treinada para a guerra. Num outro filme, o iraniano Baran, uma garota se fazia passar por menino para conseguir trabalho. A mulher que se veste de homem é mais raro no cinema que o travestismo masculino (visto em Chouchou, também em cartaz). Um dos primeiros exemplos em disfarce de homem vem em Vivendo em Dúvida, de George Cukor, de 1936, em que Katherine Hepburn se disfarça de rapaz e se envolve com um grupo de gatunos e desocupados. Os cinéfilos devem certamente lembrar Greta Garbo em Rainha Cristina, na famosa seqüência do pernoite na estalagem. Ou Julie Andrews na farsa Victor e Victória, de Blake Edwards.

Esse tipo de disfarce é mais comum apenas circunstancialmente, em uma ou outra cena. Na sua estréia em Hollywood, com Marrocos, de Joseph von Sternberg, vimos Marlene Dietrich, de smoking e cartola, cantando num cabaré e audaciosamente beijando na boca uma jovem que a assistia. E em A Pecadora (40) vestia-se uma vez de oficial de Marinha. Em À Noite Sonhamos (45), biografia de Chopin, grande sucesso na época, Merle Oberon interpretava a escritora George Sand, que vestia roupas masculinas. E Gloria Swanson, no clássico Crepúsculo dos Deuses, fazia uma imitação de Chaplin como Carlitos. Até Brigitte Bardot se travestiu de homem duas vezes. Em Viva Maria! (66), de Louis Malle, de boné e camisa listada) e em Se Don Juan Fosse Mulher (73), de Roger Vadim. Barbra Sreisand se passou por rapaz em Yentl (83), dirigido por ela mesma. Glenn Close se disfarçou de marinheiro (com bigode), numa figuração em Hook - a Volta do Capitão Gancho, de Spielberg (92). A atriz Linda Hunt ganhou o Oscar interpretando um anão fotógrafo em O Ano Que Vivemos em Perigo, de Peter Weir, em 83. E Hilary Swank também levou o Oscar, em Meninos Não Choram (99), pelo difícil papel de uma homossexual que se faz passar por homem (uma história trágica e real). A relação necessariamente não esgota o assunto, mas devemos lembrar ainda Sônia Clara, no papel de Diadorim, em Grande Sertão, de Geraldo e Renato Santos Pereira, adaptação do romance de Guimarães Rosa.

Por Carlos M. Motta