06
de junho de 2004
Poderia
ser um filme catástrofe como um outro qualquer. Mas tem
uma diferença.
Num
determinado momento, o presidente americano é obrigado
a perdoar a divida externa dos mexicanos para que eles admitam
o êxodo dos americanos do norte que estão fugindo
da nevasca, da nova Era Glacial que se abateu sobre o mundo.
E os papéis se invertem, com os americanos tentando fugir
para o México. E mais tarde, o presidente (ex-vice) que
por sinal é o vilão de tudo, pede perdão
para esse Terceiro Mundo, porque sem a ajuda deles não
haveria mais Estados Unidos.
Uma
amiga minha, que mora em Miami, diz que essas cenas têm
sido aplaudidas entusiasticamente nas salas locais (imaginem
então no México). Mas elas refletem bem a mudança
de ponto de vista entre o filme anterior do diretor Roland Emmerich
(vamos dispensar o do meio, Godzilla, como um deslize descartável
e O Patriota como um erro grave) que foi Independence
Day. Vocês
lembram como os americanos eram senhores do mundo, arrogantes
e invencíveis. Felizmente Emmerich, como alemão,
sentiu a diferença de clima (ao menos no exterior) e deu
uma lição de humildade, vinda justamente do vilão
que não por acaso lembra muito o atual e verdadeiro vice
Cheyney.
Apesar
de ter sido produzido pela Fox, que tem o mais radical telejornal
americano, este filme tem uma mensagem ecológica
liberal. Não faz tanta diferença se, em certos
detalhes, as coisas não aconteceriam exatamente como o
filme descreve. Já é que ficção científica,
que estamos apenas no domínio do possível, é ridículo
ficar discutindo isso. O importante é que o filme ataca
frontalmente os EUA por estarem provocando o aquecimento do planeta,
recusando indícios e não assinando tratados. E
que são eles que pagam o pato (de forma obviamente alegórica).
Como
todo disaster movie, este não brilha especialmente
pela qualidade do roteiro, que está repleto de lugares
comuns (o intelectual judeu tentando salvar a primeira Bíblia
de Guntemberg), de situações improváveis
(o rapaz mergulha na água gélida e quase morre
de frio, a moça fica até a cintura e não
sente nada), até absurdas (a proposta do pai vir salvar
o filho em Nova York, não seria mais lógico passar
as instruções para ele fugir dali?...). E outras
forçadas (a mãe que se sacrifica para ficar no
hospital sozinha com a criança condenada pelo câncer!).
Basta
dizer que já vimos piores. Mas ainda custa ter
que agüentar uma história de outro pai que despreza
e abandona o filho (como se americano fosse pai latino, quando
ficam adultos eles botam para fora de casa mesmo e só voltam
em dia de ação de graças, nem Natal vale).
Então é uma baboseira esta história do Dennis
Quaid vir atrás do filho Jake Gyllenghal que se refugiou
na Biblioteca Pública de Nova York junto com a namoradinha
(Emmy Rossum, importante notar que é ela quem estrela
o novo Phantom of the Opera). Ou seja, nenhum dos personagens é especialmente
interessante (nem o excelente Ian Holm que faz o cientista que,
como sempre, se sacrifica pela ciência, nem os coadjuvantes
que a gente sempre sabe que vão morrer).
Em
compensação os efeitos especiais estão
de bom a melhor. Há uma espetacular seqüência
de twister que destrói Los Angeles (começando pelo
sinal de Hollywood), o que demonstra como os efeitos evoluíram
nos últimos anos. São realmente impecáveis
e memoráveis: um navio que passa pelas ruas de Nova York,
a cidade toda ocupada pela neve (ela não é destruída,
só congelada!), a visão dos astronautas em órbita.
E a Estátua da Liberdade (que pela lógica teria
sido destruída, sua sobrevivência é simbólica).
Como o público tem um enorme fascínio por apocalipses
e desastres, o filme até que é dos melhores do
gênero. Pelo menos me deixou mais tranqüilo, já que
no final das contas segundo ele, o Brasil passará incólume.
Nada como viver neste paraíso tropical!
Por Rubens Ewald Filho
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